O Governo decidiu, está decidido, e Portugal retomará um ciclo de grandes projetos de infraestruturas do qual não existe memória, provavelmente desde o final da década de 90, com a construção da Ponte Vasco da Gama.

Um conjunto de grandes infraestruturas que incluem a Terceira Travessia do Rio Tejo (Chelas-Barreiro), o novo aeroporto internacional de Lisboa, no atual campo de tiro de Alcochete, e o regresso ao projeto da linha de comboios de alta velocidade entre Lisboa e Madrid, prometem marcar a próxima geração e serem indutoras de melhor mobilidade, maior coesão territorial na área metropolitana e, também, um catalisador de valor adicional para o sector do turismo, que deverá tornar-se ainda mais influente para o crescimento da economia nacional.

Tudo acontece num momento de viragem para a economia portuguesa. Depois da intervenção externa a que o país foi sujeito, em 2011 – que obrigou a uma nova credibilização das finanças públicas perante a comunidade internacional –, e do tempo que se perdeu com indecisões de pendor político em torno das localizações das mesmas, existe agora uma série de fatores que fazem deste um momento favorável para esta tomada de decisão.

Desde logo, porque as perspetivas das condições económico-financeiras estão a melhorar, dando conta que os danos colaterais provocados na economia pelo combate à inflação nos últimos anos estão cada vez mais controlados. As previsões patentes no relatório de primavera da Comissão Europeia, divulgadas recentemente, foram revistas em alta, e a autoridade espera que Portugal cresça ligeiramente mais este ano que anteriormente, ou seja, 1,7% face a 1,5%, que era a estimativa patente no relatório de inverno.

O mesmo relatório espera também bons resultados no que diz respeito à gestão orçamental nos próximos anos, apontando para excedentes em 2024 (0,4%) e 2025 (0,5%). E isto num clima de inflação controlada, que deverá abrandar para 2,3% em 2024 e 1,9% em 2025, o que sustenta também a descida das taxas de juro diretoras por parte do Banco Central Europeu e, consequentemente, menores custos de financiamento associados, indutores para promover crescimento.

Noutra frente, importa referir a importância estratégica de Portugal investir para melhorar as condições de mobilidade para a próxima década, e isto é uma situação que funciona em duas frentes.

Primeiro, a óbvia necessidade de Portugal ter melhores condições de mobilidade internacional, construindo um aeroporto funcional, moderno e com capacidade para crescer e capitalizar economicamente, criando uma potencial de centralidade atlântica em Lisboa, e construindo uma linha de alta velocidade de comboio entre as principais capitais ibéricas, Lisboa e Madrid.

Mas estes equipamentos anunciados, por se encontrarem a sul do tejo, irão exigir mais e melhores vias de comunicação com a capital – à cabeça, a Terceira Travessia do Rio Tejo –, o que permitirá criar uma maior coesão entre as margens norte e sul do rio, que estarão muito mais ligadas entre si, reduzindo as distâncias e permitindo mais soluções de habitação com custos mais controlados, que irá criar uma espécie de grande cidade metropolitana com duas margens, retirando assim alguma pressão populacional do centro de Lisboa.

Por último, e não menos importante, destaca-se também a crucial importância das obras anunciadas para o sector do Turismo nacional. Os dados divulgados pelo INE, na semana passada, mostram que este irá continuar a ser incontornável para a economia em 2024. Os proveitos totais do turismo em Portugal, relativamente ao mês de março, subiram 20% quando comparados com igual período do ano passado, assente numa subida de 12% do número de hospedes, que atingiram neste período os 2,3 milhões.

Este é um sector que está a puxar pela atividade e emprego nacional, e que deverá crescer ainda mais nos próximos dez anos. De acordo com números do Observatório World Travel and Tourism Council, o turismo em Portugal deverá continuar a crescer significativamente, e podendo representar, em 2034, cerca de 22,4% do PIB nacional e cerca de 1,4 milhões de postos de trabalho, o que significa que em cada quatro portugueses, um trabalhará de forma direta ou indireta no sector.

Sendo assim, todos estes novos equipamentos serão importantíssimos para amplificar o potencial de uma indústria que já ia crescer a passo acelerado e que, agora, pode fazê-lo a alta velocidade, seja por ar, seja pela via férrea.