O país da marrabenta que nos arrebata e da capulana feita arte. O paraíso na terra pela imensidão e diversidade da paisagem humana e cultural, o embalo do Índico, a natureza por descobrir ou a aventura sonhada. Uma encruzilhada de civilizações, evidenciadas em cada lugar, em muitos encontros e em todas as situações.

Com rios únicos e arquipélagos misteriosos, rodeados de mar azul-turquesa ou esmeralda e berçário de raras espécies marinhas. Desde Maputo, a cidade das acácias desenhada a regra e esquadro, ao tesouro da vida selvagem que é a Gorongosa da casa dos leões, à Ilha de Moçambique Património da Humanidade.

Pemba, a Porto Amélia de tempos remotos, é um dos lugares onde provavelmente melhor se poderá admirar a diversidade da bela terra moçambicana. Tendo ao largo, nas fascinantes Quirimbas, a fortaleza de São João Baptista do Ibo. Ora, é exatamente aí no extremo norte, a longínqua Cabo Delgado que está hoje a ferro e fogo.

Grupos armados de fanáticos jiadistas – a que chamaram por demasiado tempo tão-só de insurgentes, vêm perpetrando ataques, raptos, assassinatos com instintos de malvadez e massacres indiscriminados. Saqueando e destruindo bens, espalhando o medo e o êxodo das populações. Cada vez mais sistematicamente e cada vez mais organizadamente. Com muita ambição, despudorado à vontade e suficiente doutrinação, perante a impotência das autoridades de defesa e segurança instaladas ou contratadas.

Tudo isto numa região que está transformada na mais pobre de Moçambique, mas em que as suas riquezas imensas e variadas, incluem grandes reservas de gás natural. E onde há mais do que evidentes e relatados sinais de corrupção nas elites, conflitos étnicos provocados e privilégios políticos aliados a interesses económicos. Chão propício para vingar o descontentamento que não foi só num fósforo que se radicalizou, mas que fez dos homens monstros.

Torna-se urgente o apoio humanitário e a assistência internacional a Moçambique, para promover nesta zona o desenvolvimento, o bem-estar das suas gentes e finalmente a paz. Dando resposta também à descrição da situação vivida e ao apelo lancinante do Bispo D. Luíz Fernando Lisboa.

A situação no norte de Moçambique não pode ser ignorada pois é enorme o seu potencial de contínua e rápida escalada, para além de efeitos de alastramento em mancha. Tem origens externa e interna perfeitamente identificadas. Como sempre disse, repito e sublinho: exige a procura de uma solução política, em primeiro lugar, mas não descarta, de todo e em último caso, uma conjunta intervenção regional ou alargada.

Em que Portugal, como país irmão, tem o dever de estar disponível para cooperar ativamente e sem hesitações – desde que seja essa a vontade do governo moçambicano. Porque Moçambique é hoje um país livre e independente que tem nas mãos por inteiro o seu próprio destino. Mas há combates sérios a travar e é exatamente nestes tempos, sem ventos de feição, que se reconhecem os amigos. Haja quem aprenda que a salvaguarda de valores fundamentais, defendendo vidas e sem contemplações com criminosos, é o cumprimento de um dever de presença e solidariedade que só nos honra e engrandece.