Durante anos, o centro-esquerda e centro-direita portugueses encontravam-se em torno de grandes desígnios nacionais. A construção da democracia, o desenvolvimento do Estado social ou a transição para uma economia de mercado fizeram-se de consensos ao centro.
Não obstante, entre os seus consensos mais recentes estão as “democráticas” eleições para as CCDR ou o acordo sobre uma lei eleitoral que penaliza candidaturas independentes e maltrata a democracia.
Há uma perceção instalada de que o centro político deixou de ser o espaço que melhor defende o interesse nacional e que é agora um espaço para a defesa dos interesses instalados (vulgarmente conhecidos por “sistema”).
A esta ideia juntou-se uma polarização fabricada politicamente que defende que Portugal, um país onde as eleições se ganham ao centro, está dividido entre federações de esquerda e direita, advogando que o centro é um perigo para a democracia porque alimenta os extremos.
Tenho sérias dúvidas, até porque a incontestável reeleição do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa demonstra, de alguma forma, que a maioria dos portugueses são moderados.
O problema é que a moderação não é sexy, a sensatez não abre noticiários e os consensos estão longe de incendiar redes sociais. Num momento em que a moderação, enquanto atitude política, é fundamental para se perpetuar as reformas de que o país está carente, achamos por bem ir atrás dos quadrantes que fazem mais barulho.
Advogo que tentar polarizar o país num momento em que, em virtude do maior pacote de medidas de estímulo de sempre, podemos almejar um conjunto de reformas estruturais, é contraproducente.
Primeiro, porque, pela exigência de maiorias amplas, as grandes reformas em Portugal foram historicamente conseguidas ao centro.
Segundo, porque a polarização, ainda para mais alimentada por uma fragmentação parlamentar, leva a que não seja possível formar maiorias significativas para reformar o país ou a que tais reformas se façam, não através de consensos, mas sim de confrontos sociais dificilmente perpetuáveis.
A moderação é uma atitude e não um espaço político, mas é ao centro que ela se fortalece e perpetua: aqui continuarei, um democrata radical, um moderado sem moderação, à procura de algum silêncio no meio de tanto ruído.