1. Carlos Moedas está entre dois mundos. Se, por um lado, está a fazer um esforço titânico para governar a Câmara Municipal de Lisboa (CML) sem maioria, com o apoio do CDS, um partido que ao que tudo indica estará em vias de extinção, por outro, está a tentar apoiar a nova liderança do PSD que tem agido de forma entusiasmada via Luís Montenegro.

O líder do PSD, por sua vez, tem feito intervenções certeiras, revelando alguns laivos do que será a oposição à maioria de António Costa. Tem sido, aliás, bastante agressivo e feliz no ataque a um dos ministros mais destacados do Governo de Costa, concretamente Pedro Nuno Santos.

Ora, foi justamente com Pedro Nuno Santos que Moedas defendeu – com intervenção desastrada quer na apresentação de um programa de habitação acessível onde o ministro estava presente; quer ainda numa entrevista posterior, na qual veio dizer o que tinha de comum com o “enfant terrible” do PS – que ambos são “fazedores”.

Carlos Moedas sabe que o equilíbrio na CML é muito sensível e, não contente com aquelas declarações disparatadas, veio também defender a existência de um busto de Vasco Gonçalves (o político de esquerda relevante no período do PREC) em Lisboa, culminando, assim, uma semana de comunicação desastrosa num político que tem tudo para ser um bom autarca e um valor muito seguro para o futuro do PSD.

Para que tal aconteça, porém, Moedas tem de encontrar pontos de sintonia com o discurso de Luís Montenegro e não ceder à comunicação social e aos opinion makers, desde logo não procurando a busca fácil de apoios à esquerda porque, também dessa forma, irá perder o eleitorado natural do PSD e do CDS em Lisboa, precisamente aquele que o elegeu. Aí, o futuro da CML ficará para um qualquer candidato que surja à sua esquerda.

Resumindo, Moedas não tem muito mais tempo para provar o que vale e, por isso, não lhe ficou bem ter aceite levar uma “descasca” da ministra Ana Catarina Mendes, a qual tinha pedido aos autarcas de Lisboa e de Loures para não se pronunciarem sobre os dinheiros da Jornada Mundial da Juventude de 2023. Ora, um autarca do mais importante concelho do país e apoiante do líder da oposição não pode aceitar ser enxovalhado por uma ministra que está do outro lado da barricada.

2. A economia está a arrefecer um pouco por todo o lado. No dia a dia ainda não é visível, mas as perspetivas de crescimento para os países desenvolvidos e emergentes são um alerta a não desprezar.

Nos últimos dias, estudos da seguradora Crédito y Caución chamavam a atenção para a “aterragem suave do crescimento dos EUA”, um país onde a inflação é galopante mas por razões diferentes do que se regista na Europa. Nos EUA, o que temos é uma economia a funcionar acima da sua plena capacidade, ou seja a procura após a pandemia supera a oferta.

A Reserva Federal está a obrigar às maiores subidas de juros dos últimos 28 anos, o que significa um crescimento do Produto de 2,6% em 2022 e de 1,8% em 2023, sendo que poderá ocorrer uma recessão algures em 2024.

Na Europa, a maior queda do Produto será o da Rússia, com menos 8% este ano, mas o país continua a exportar energia em grande volume. Entretanto, o crescimento na China cairá para metade, mas ainda assim situar-se-á nos 4%, enquanto o PIB da Índia, segundo a mesma fonte, abrandará para os 6,8% em 2022, estimando-se que o Brasil registe um crescimento modesto de 1,8% em 2022. Sinais que a Europa não pode ignorar.