Olhar o futuro que temos pela frente é um exercício mais desafiante hoje do que seria há alguns anos a esta parte. A incerteza faz-se sentir em todos os contextos competitivos, independentemente da indústria ou da geografia para a qual estejamos a olhar.
Os últimos anos demonstraram a fragilidade da estabilidade geopolítica e económica mundial. Da pandemia, à consolidação do potencial da IA [inteligência artificial], passando pela emergência de conflitos bélicos de maior expressão, até às pressões demográficas, temos assistido a um redesenhar de paradigma.
O próximo ano aparenta tornar mais claros alguns destes pontos de fricção, em que a incerteza continua a ser uma parte relevante da equação. É nesta linha que o relatório recente lançado pela EY em conjunto com a Universidade de Oxford, “2025 Geostrategic Outlook”, desenvolve as principais expectativas para 2025, com três temas âncora: o regresso à iniciativa política, a intensificação da concorrência económica e o agravar das rivalidades geopolíticas.
Começando pelo primeiro tema, em termos eleitorais 2024 foi um ano em que cerca de 54% da população mundial, representando cerca de 60% do PIB mundial, foi às urnas para eleger novos governos, pelo que se espera que, diminuindo o curto-prazismo eleitoral, haja uma redefinição significativa de legislação relevante a nível mundial, abrindo mais portas à iniciativa política.
No que toca ao segundo tema, apesar da existência de algumas iniciativas de maior colaboração (e.g., acordo UE–Mercosul), espera-se um agravar da competição entre blocos económicos, com consequentes políticas protecionistas, havendo cada vez mais um foco na redução de dependências das cadeias de fornecimento de blocos económicos distintos (i.e. China mantém atualmente controlo sobre importantes metais e minerais como o cobre, zinco e terras raras).
Finalmente, espera-se também um agravar de rivalidades geopolíticas, intensificando-se uma lógica de multipolaridade, pautada por forte concorrência económica e conflitos bélicos em zonas de natureza estratégica (e.g., Ucrânia, Médio Oriente), exacerbando as divergências de interesse entre EUA e rivais económicos, potencialmente mantendo-se um contínuo foco de tensão entre os EUA, a Rússia e a China.
Portugal não escapa a esta análise, enfrentando 2025 com desafios significativos para a sua economia, mas também algumas oportunidades.
A intensificação da concorrência e o agravar das rivalidades geopolíticas podem ser um presságio de um período menos fácil para a economia portuguesa, principalmente devido à dependência da economia nacional da saúde económica dos nossos parceiros europeus, atualmente com dificuldades em manter uma trajetória de crescimento. De facto, a estagnação da Alemanha (cujo PIB deverá crescer pouco mais de 0,1% este ano) já se começa a sentir na nossa economia, com muitas empresas da cadeia de fornecimento do setor automóvel a sofrerem quebras de encomendas e faturação.
Assim sendo, esperam-se choques negativos, quer indiretamente através de um menor poder de compra europeu em setores fundamentais como turismo, quer diretamente em setores fortemente dependentes de exportações para parceiros europeus como é o caso do automóvel.
Oportunidade para Portugal
A esta visão pessimista junta-se, no entanto, uma oportunidade real de Portugal apoiar a Europa na sua reindustrialização e posicionamento na economia global, alavancando valências como energia competitiva e verde, talento competente com valores competitivos e bom posicionamento como eixo exportador.
Segundo o último EY Attractiveness Survey 2024, apesar de ter havido uma quebra de projetos de Investimento Direto Estrangeiro (IDE), Portugal mantém-se no top10 de países europeus recetores, com 84% dos investidores entrevistados a planearem criar ou expandir projetos no país, acima da média europeia de 72%. E é importante referir que Portugal nos últimos cinco anos registou o terceiro maior crescimento no número de projetos de IDE na Europa.
Assim, apesar do contexto desafiador caracterizado por uma grande incerteza, continuo bastante otimista em relação ao futuro e ao futuro das empresas portuguesas que consigam antecipar as transformações que teremos pela frente e adaptar os seus modelos de negócio aos novos contextos competitivos.
Desta forma acredito que as empresas portuguesas mais bem preparadas para ultrapassar os desafios de 2025 serão aquelas que conseguirem diversificar a sua atuação e criar uma proposta de valor orientada a uma Europa protecionista e com dificuldades em exportar. Nesta linha, as empresas vencedoras serão aquelas que se consigam posicionar como uma alternativa local a cadeias de valor atualmente fora da Europa, ou que se tornem uma plataforma de exportação para fora do bloco europeu. Ambos os posicionamentos assentam em garantir uma maior competitividade de custo vs. as alternativas existentes no espaço económico europeu e um foco em sectores estratégicos (e.g., cadeia de valor do lítio e veículos elétricos, serviços de software & TI).
Para materializar este potencial, um papel ativo das empresas e associações empresariais portuguesas é fundamental, quer para a identificação de oportunidades claras quer para a articulação com potenciais parceiros e investidores estrangeiros.
Adicionalmente, num tema já recorrente na economia portuguesa, temos de conseguir avançar com um claro processo de consolidação das empresas portuguesas, seja via aquisições ou fusões, criando agentes económicos com dimensão e capacidade para actuar no mercado Europeu e Global e diminuindo a actual situação de muitas micro e pequenas empresas sem dimensão para concorrer de forma global.
A EY está decidida a ter um papel central na materialização das oportunidades que se avizinham para Portugal e continuará no apoio ativo ao tecido empresarial português com soluções de negócio ajustadas a cada sector por forma a desenvolver a capacidade de resiliência das empresas portuguesas para que estas consigam entregar crescimento e cumprir expectativas de crescimento para o futuro.
Assim concluo que, apesar de ver em 2025 um ano desafiante, acredito que este será um ano de sucesso para todas as empresas que tiverem a coragem para olharem para os desafios de uma forma diferente e de se reinventarem continuamente num mundo em acelerada transformação.