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Montado português: plataforma de investigação recebe prémio internacional

A LTsER, plataforma que investiga esta paisagem natural única, recebeu o ‘Most Striking Case’, atribuído pela primeira vez pela rede Internacional de Investigação Ecológica de Longo Prazo (ILTER).
16 Setembro 2019, 07h33

A LTsER, plataforma portuguesa que investiga numa perspetiva de longo prazo a paisagem única do montado no nosso país, recebeu, no final da semana passada, um prémio internacional, o ‘Most Striking Case’, atribuído pela primeira vez pela rede Internacional de Investigação Ecológica de Longo Prazo (ILTER).

“O montado é uma das paisagens identitárias de Portugal. Moldado pelo Homem ao longo de séculos por atividades como a agricultura, a pastagem e a caça, este ecossistema tipo savana é característico do sul do país e reconhecido pelas vastas extensões de sobreiros e azinheiras dispersas pela paisagem, com uma enorme importância económica, ambiental e cultural para o país. O estudo deste ecossistema, com vista à sua perservação e sustentabilidade, é uma das prioridades de vários grupos de investigação do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), reunindo os esforços de um conjunto significativo dos seus investigadores através de projetos nacionais e internacionais”, esclarece um comunicado do LTsER.

O mesmo documento acrescenta que a LTsER foi criada em 2011. O nome vem do inglês: ‘Long-Term Socio-Ecological Research’. Desta forma, a LTsER recolhe, analisa e armazena séries temporais de dados ambientais, sociais e económicos, para desenvolver investigação sobre todos os fenómenos e processos que afetam o montado.

“E o trabalho que tem vindo a desenvolver nestes oito anos foi agora reconhecido a nível internacional com o Prémio ‘Most Striking Case’ atribuído pela rede ILTER, que agrega centenas de sítios de investigação ecológica de longo prazo”, sublinha o referido comunicado.

“O que distingue esta plataforma de investigação é a visão abrangente e de longo prazo que tem deste ecossistema. O montado muda, mas muda devagar: muitos fenómenos associados às alterações ambientais, como as alterações climáticas e no uso do solo, a desertificação e a degradação do solo apenas se conseguem detetar a longo prazo”, explica Margarida Santos-Reis, coordenadora da plataforma LTsER Montado e investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c/FCUL.

A LTsER Montado é um dos quatro sítios/plataformas de investigação ecológica de longo prazo que existem no nosso país, constituindo a rede LTER Portugal.

A rede LTER organiza-se em dois níveis: as plataformas LTSER e os Sítios LTER, sendo que as plataformas abrangem uma área geográfica mais vasta e integram uma abordagem socio-ecológica na sua investigação – daí o ‘s’ na designação LTsER.

“A plataforma LTsER Montado desenvolve a sua investigação conjugando os dados regionais obtidos por deteção remota e bases de dados e estatísticas oficiais com trabalho de campo desenvolvido em cinco sítios de experimentação e/ou monitorização, que representam um gradiente de clima e tipos de solo: a Herdade da Ribeira Abaixo (estação de campo da FCUL), a Companhia das Lezírias, a Herdade da Machuqueira do Grou, a Herdade da Coitadinha e a Herdade da Contenda”, adianta o mesmo comunicado.

Estudar o montado a longo prazo – e numa perspetiva transdisciplinar é um dos prncipais objetivos do LTsER.

Por seu turno, o prémio ‘Most Striking Case’ foi criado pela rede ILTER com o objetivo de distinguir a plataforma com resultados mais marcantes, que só poderiam ser obtidos através de um trabalho de equipa e uma abordagem transdisciplinar e de longo-prazo.

“É essa a abordagem que tem vindo a ser desenvolvida na LTsER Montado, envolvendo investigadores de diversas disciplinas científicas – como biólogos, ecólogos, cientistas sociais e geólogos – e assumindo o envolvimento da população da região e dos decisores políticos”, assinala o comunicado em questão.

“Num dos nossos projetos recentes trabalhámos com as várias pessoas envolvidas no montado – como os donos da terra, gestores, técnicos, associações de caçadores ou de apicultores e cientistas – para identificar e avaliar o que identificam como os principais serviços prestados pelo montado – ou seja, os benefícios que obtemos deste ecossistema. Os produtos derivados do sistema, como a cortiça,  e os serviços de regulação e manutenção foram dos mais valorizados”, explica Inês Teixeira do Rosário , da equipa do LTsER Montado e investigadora do cE3c, na FCUL.

De acordo com a plataforma LTsER, “a sustentabilidade futura do montado depende de uma gestão adequada e de uma visão de longo-prazo, e uma das ações que tem vindo a ser implementada para combater a degradação do sistema é a reflorestação ou a promoção da regeneração natural”.

“Noutro dos seus projetos mais recentes (AdaptforChange), a equipa desenvolveu um modelo que permite avaliar com grande precisão espacial o potencial da regeneração natural ao longo do tempo”, garante o referido comunicado.

“Este modelo mostrou que as zonas com menor exposição solar são as zonas com maior regeneração natural ao fim de 60 anos, e permitiu também ver que este sucesso diminui drasticamente num cenário de alterações climáticas”, explica Adriana Príncipe, um dos elementos da equipa do LTsER Montado e doutoranda do cE3c, na FCUL.

Estas recomendações foram já integradas no Plano de Adaptação de Mértola às Alterações Climáticas por André Vizinho, investigador do cE3c, e colegas.

A LTsER tam cinco bases de atuação preferenciais em Portugal. a primeira é a Herdade da ribeira Abaixo, localizada na margem esquerda do rio Sado, Baixo Alentejo, a sete quilómetros de Grândola e cerca de 100 quilómetros a sul de Lisboa. Tem uma área de 221 hectares.

A Companhia das Lezíria é 0utra das bases da LTsER. Servida pelo rio Tejo, no Ribatejo, cerca de 30 quilómetros a nordeste de Lisboa e a cerca de sete quilómetros de Vil Franca de Xira, tem quase 18 mil hectares de área.

Depois, surge a Herdade da Machuqueira do Grou, também servida pelo rio Tejo, também no Ribatejo, cerca de 100 quilómetros a a nordeste e a cerca de 25 quilómetros de Coruche, com uma área de 2.500 hectares.

Referência ainda para a Herdade da Coitadinha, servida pelo Guadiana, no Baixo Alentejo, a cerca de 200 quilómetros a sudeste de Lisboa e a cerca de oito quilómetros de Barrancos, com uma área de mil hectares.

Por fim, outra das bases da LTsER é a Herdade da Contenda, no concelho de Moura, no Baixo Alentejo, limitada pela fronteira com Espanha e também servida pelo Guadiana, com uma área de mais de 5.200 hectares.

 

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