A escolha e a divulgação do novo Procurador-Geral da República (PGR) confirma a eficácia de Luís Montentegro sempre que é confrontado por um momento político de relevância máxima. Foi assim quando indicou Margarida Blasco para ministra da Administração Interna e agora volta a demonstrar este mesmo instinto e eficácia de longo alcance.
Depois de anos e anos com fracos ministros na Administração Interna, Montenegro acertou em cheio na pessoa que escolheu. Blasco é competente, tem conhecimento e o perfil pessoal adequado à função —, mas acima de tudo tinha sido diretora-geral do SIS e também Inspectora-Geral da Administração Interna, o que a equipa com um arsenal de recursos verdadeiramente poderoso e sem igual. Dito de outra forma, tem informação suficiente para travar as incursões subterrâneas e subversivas do Chega pelas polícias. O partido de André Ventura estava a corroer e a radicalizar parte da PSP, o que, a prazo, teria terríveis consequências que ficaram bem expressas no cerco ao Capitólio de Lisboa.
A escolha de Amadeu Guerra para PGR foi construída com ingredientes muito semelhantes aos de Margarida Blasco. A lastimável demagogia do Chega sobre a corrupção generalizada no país e entre os políticos pode ir cantar para outra freguesia. Amadeu Guerra tem as mãos curtidas pelos processos que envolveram José Sócrates, Ricardo Salgado e outros nomes de alto calibre. Nem sempre acertou e há atrasos evidentes — quem acerta sempre? —, mas a sua seriedade é à prova de bala, a que se junta competência e conhecimento profundo do pântano que vigiará.
Bastaria isto para dar nota 10 em 10 ao primeiro-ministro. Mas há mais: divulgar a identidade do novo PGR mais de uma semana antes do prazo revela desde logo preparação e trabalho; mas também demostra um finíssimo instinto político. Der por onde der, a discussão sobre o OE2025, este golo, o do PGR, está marcado e vale como uma verdadeira goleada de credibilidade numa área tão sensível e importante para o país. Os corruptos e bandidos estão avisados: Amadeu Guerra chegou. Acresce a isto o remoque ao PS, Guerra é, de certa forma, o anti-Sócrates. Não é isto uma delícia política?
Mas há mais. Não só todos (todos!) os partidos tiveram de fazer a justa vénia à escolha de Amadeu Guerra, como novamente o Chega fica um pouco mais destrunfado. Quer André Ventura ir para eleições antecipadas agitar a bandeira da corrupção agora que, finalmente, foi corajosamente escolhido um PGR que não vai estagiar para o lugar, assume-o já preparado e com tudo para conseguir resultados? Eu diria que o Chega já não quer eleições e até é provável que vote a favor do OE2025. Aqueles 50 lugares de deputados são uma prova de vigor eleitoral de Ventura, mas também uma camisa de forças.
Montenegro sabe o que está a fazer.