Na política, a imagem e a estratégia são como o código postal: faz metade do trabalho. E nas últimas semanas, dentro desta silly season onde apenas os incêndios marcam – infelizmente – a agenda de todos, a par do statu quo de uma guerra perante a qual a população europeia já mostra sinais de cansaço e menos entusiasmo, pouco mais se vê do que as maledicências de uma maioria absoluta. Em suma, há menos cuidado com os atos e as palavras.

Claro que foi muito mau ouvir a ministra da Agricultura dizer que, perante a severidade meteorológica, a área ardida poderia ter sido 30% maior. É uma tristeza ver as imagens dos incêndios e a importância de bombeiros, proteção civil e populações, mas não é menos relevante ouvir um membro do Governo congratular-se porque um algoritmo lhe diz que estamos melhor do que poderíamos estar.

A situação agravou-se com outra tirada de outra governante que comentava o incêndio na Serra da Estrela, ao afirmar que a zona ficará muito melhor no futuro, depois de recuperada. É algo que se diz sem ser pensado, que revela desorientação e, sobretudo, descredibiliza a função política.

Mas as desorientações não se ficam por aqui. A ex-ministra da Modernização da Administração Pública, Alexandra Leitão, disse recentemente no jornal “Expresso”, e com razão, que o PS estava, na prática, a dar palco ao partido Chega, pelo facto de o querer isolar. Pura verdade.

O comentador e professor Vasco Rato, que tal como Jaime Nogueira Pinto, irá participar nas jornadas de juventude do Chega, tem a mesma opinião. Refere que a melhor forma de o combater é não o isolar e não lhe dar todo o palco. Esta é uma atitude sábia do ex-presidente da FLAD.

Luís Montenegro, líder do PSD, está a recentrar o partido no centro-direita. Tem feito uma oposição quase diária ao primeiro-ministro António Costa, e está a fazer voltas pelo país, encontrando-se com bombeiros e comerciantes nos locais dos problemas reais.

Claro que lhe falta estratégia e comunicação, e isso é, quando bem feito, “meio caminho andado” para vencer. Aliás, até há algum tempo se dizia que Montenegro andava sempre com um sorriso na cara e, para isso, é preciso treino. Falta rodear-se das pessoas certas, nomeadamente de algumas que levaram Passos Coelho ao poder e, com os dados lançados, repetimos, é tudo uma questão de comunicação e estratégia.

Montenegro tem condições para roer as canelas a António Costa e este é o momento para o fazer. Estamos numa altura em que os preços dos bens alimentares sobem, os preços da energia aumentam exorbitantemente e a banca vive um período difícil, situação demonstrativa da vigilância apertada do Banco Central Europeu.

Junto da população sentimos desconforto perante o aumento generalizado de preços, o fim para muitos do crédito fácil, a quebra das expetativas na compra ou arrendamento de casa e o regresso do “papão” da emigração. Esperam-se quatros anos de oposição cerrada, ou talvez menos caso Costa se atire à candidatura à Comissão Europeia, para o conta com apoios importantes, como Macron.

A Europa está a passar por um desnorte e prepara-se para um 2023 em recessão, subida de juros – que será menos acentuada do que se esperava, devido à quebra da atividade económica e do poder de compra – e um eventual regresso em força do desemprego.

É o custo da guerra que todos teremos de continuar a pagar.