1. As eleições no PSD estão em pleno movimento com os dois candidatos, Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva, no terreno, cada um a capitalizar apoios importantes (ainda esta semana Mota Amaral declarou apoio a Moreira da Silva), mas é algo surpreendente que o principal partido da oposição não realize um único debate entre os dois candidatos a líder.
Esta circunstância deve-se ao facto de Luís Montenegro ter recusado debater com Moreira da Silva, algo que não se entende a vários títulos querendo o ex-líder parlamentar quer ser o principal interlocutor perante António Costa e líder da oposição. Pode um eventual líder da oposição recursar debater com o seu opositor interno? Pelos vistos pode e isso aconteceu quando estamos em vésperas de eleições para a liderança do (ainda) maior partido da oposição.
O antigo homem forte de Passos Coelho no parlamento não perdia nada em debater com o ex-ministro Moreira da Silva, só se por alguma razão não está confortável com um debate onde Moreira da Silva possa aparecer melhor preparado, com mais ideias para o futuro e com uma visão de acesso ao poder direta e efetiva. Só por esta razão Montenegro terá recusado o debate, o que será lembrado no futuro pelos seus adversários políticos e que não abona em favor da desejada democracia interna.
Ficamos sem saber, como é o caso pois não andamos na campanha interna do PSD, o que pensam os candidatos a primeiro-ministro, que visão têm do país e, sobretudo, escapam ao escrutínio de um entrevistador mais preparado que os quererá ouvir sob temas como Ucrânia, subida de taxas de juro, pandemia, perda do poder de compra ou ainda o apoio aos jovens e outras matérias relevantes. Foi a isto que se furtou Montenegro e é um péssimo serviço ao país e à democracia.
2. Os senhorios estão à espera de mais uma derrogação do período transitório sobre congelamento de rendas. Tudo começou nos cinco anos, depois oito anos, depois 10 anos e agora espera-se mais um ano. O tema é recorrente e transforma os senhorios em agentes sociais para suportar inquilinos antigos. A tática não é nova, vem do tempo da “outra senhora” em que as rendas foram congeladas e o fraco poder de compra das famílias era suportado por rendas habitacionais administrativamente baixas.
O Estado transferia o ónus de suportar rendas baixas para as senhorios, sendo que na altura era comum os seguradores terem dezenas ou centenas de edifícios de habitação como ativos e, na prática, acabavam por ser as grandes instituições financeiras a suportar tais encargos. Os pequenos senhorios eram apanhados por tabela.
Nos últimos anos os seguradores livraram-se dos imóveis e ficaram pequenos proprietários com fracos recursos. A alavanca do turismo e do alojamento local permitiu repintar as principais cidades do país, mas mantiveram-se as dificuldades para os senhorios de poucos recursos. E a situação tende a protelar-se. É preciso um manifesto social a proteger-se este tipo de senhorios que se tornaram pobres.
3. As rendas acessíveis continua a ser uma boa ideia mas não exequíveis. A oferta é ridiculamente reduzida perante as necessidades, sobretudo da população jovem que é empurrada para periferias a dezenas de quilómetros dos locais de trabalho ou “entalada” em casas sem condições e com rendas absurdamente inflacionadas. A lei do mercado obriga a intervenções do lado da oferta. É preciso muito mais oferta.