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Montepio pôs créditos da Casa da Sorte à venda

O banco pôs à venda os créditos vencidos da Casa da Sorte no valor de 21,5 milhões. Apareceram três entidades na corrida. Uma delas foi excluída por suspeita de acesso a informação privilegiada.
5 Novembro 2017, 19h00

A Caixa Económica Montepio Geral (CEMG) lançou um concurso para a venda dos créditos vencidos sobre a Casa da Sorte, entidade que avançou com um pedido de um processo especial de revitalização (PER) a 10 de maio deste ano.

O banco liderado por José Félix Morgado é o maior de todos os credores da Casa da Sorte, com um crédito total de 21,5 milhões de euros.

O banco lançou um concurso para vender os créditos e surgiram três candidatos: uma sociedade sul-africana; o grupo Ultra (que entre outros negócios detém uma casa de câmbios), e Pedro Laureano, sócio minoritário da Casa da Sorte. Laureano (ex-quadro do Banco Português de Negócios, sócio de Manuel Dias Loureiro) acabou por ser excluído do processo por, alegadamente, ter acesso a informação privilegiada. Portanto, nem chegou a apresentar qualquer proposta, segundo as nossas fontes.

O Jornal Económico sabe ainda que se realizou uma reunião na Caixa Económica, a 31 de outubro, que tinha em agenda a venda dos créditos da Casa da Sorte.

Fontes contactadas pelo Jornal Económico dizem que o concorrente escolhido pela instituição financeira foi a empresa sul-africana, que tem especialmente interesse nos colaterais desses créditos, constituídos por imobiliário.

Os créditos devidos à CEMG referem-se a vários contratos de financiamentos e estão garantidos através da penhora sobre quotas dos donos da empresa, de acordo com a lista de credores publicada no portal Citius citada pelo jornal Expresso de Agosto. Na lista, são 35,8 milhões de euros de créditos reconhecidos pelo administrador judicial, Nuno Albuquerque. Os responsáveis pela Casa da Sorte disseram recentemente à imprensa que recorreram ao PER para reestruturar a dívida.

O concurso da venda de créditos do Montepio promete fazer correr tinta uma vez que há suspeitas de que os candidatos estão ligados a partes relacionadas.

A Casa da Sorte, a maior empresa portuguesa de venda de lotarias e apostas mútuas, entrou em Processo Especial de Revitalização (PER) com dívidas de 35,8 milhões de euros que está a negociar junto dos credores.

O Estado português é credor da Casa da Sorte com cerca de 10% do total da dívida da Casa da Sorte. A Autoridade Tributária tem a receber 2,7 milhões de euros de IRC de 2016 e ainda 149 mil euros de imposto de selo relativo a 2012, 2013 e 2014, segundo a notícia do semanário. A Segurança Social tem mais de 1 milhão de euros a receber, devido a pagamentos em atraso desde junho de 2016 e ainda a algumas contribuições mais antigas, que remontam ao ano 2012.

Segundo a notícia do Expresso, a empresa já terá em marcha acordos para regularizar estas dívidas ao Estado.

Além do CEMG, há outros bancos na lista de credores da Casa da Sorte, como o BIC (agora EuroBic), que tem a receber 4,6 milhões de euros; o Novo Banco (perto de 1,2 milhões de euros) e o BCP (mais de 500 mil euros).

Outro credor de referência é o Clube de Futebol “Os Belenenses”, que reclama mais de 3,5 milhões de euros, por causa de um contrato de cedência de exploração, que motivou uma ação judicial do clube contra a Casa da Sorte em janeiro de 2017. Em 2010, a Casa da Sorte, através da Binganimus, começou a explorar o bingo d’Os Belenenses, mas em 2014 entregou o negócio à sociedade espanhola Pefaco, que na mesma altura entrou na gestão de outras oito salas de bingo em Portugal.

A Casa da Sorte é liderada por José Miguel Marques Mendes, irmão do antigo presidente do PSD e comentador da SIC, Luís Marques Mendes. José Miguel Marques Mendes é também CEO da Mistura Singular, empresa especialista em recuperação de pequenas e médias empresas (PME) em dificuldades.

O nome de José Miguel Marques Mendes para presidir à empresa em risco de insolvência terá sido indicado pelo Montepio Geral.

A Casa da Sorte foi fundada em Braga, em 1933, por António Augusto Nogueira da Silva. Estendeu a sua atividade ao Porto, em 1938, e a Lisboa, em 1940.

Em 1972, a empresa foi transformada em sociedade anónima, afirmando-se como a “maior organização portuguesa de lotarias e apostas mútuas e na casa que maior quantidade de prémios grandes tem distribuído”, assim como “maior requisitante oficial da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa”.

 

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

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