A Moody’s fez uma atualização do outlook do sistema bancário bancário europeu, incluindo o português. A agência assenta essa melhoria da perspetiva da banca portuguesa – que passa de negativa para estável – na recuperação económica e nos resultados positivos reportados pela maioria dos bancos.
No entanto, alerta para a expectável degradação da qualidade da carteira de crédito no fim dos apoios à economia e diz que as provisões que têm sido constituídas pelos bancos para acomodar o impacto económico da pandemia podem não ser suficientes.
Os bancos nacionais que a Moody’s acompanha são os seis maiores: CGD, BCP, Novo Banco, Santander Totta, BPI e Banco Montepio.
“Mudámos a nossa perspetiva para o sistema bancário de Portugal de negativa para estável. A nossa visão reflete o retorno antecipado ao crescimento em 2021 da economia portuguesa, após uma contração induzida pelo coronavírus em 2020. No entanto, esperamos um aumento dos problemas com a carteira de empréstimos durante o período da perspetiva, devido à interrupção económica persistente relacionada com a pandemia”, explica a Moody’s.
Os bancos também enfrentarão uma pressão contínua na receita devido a uma moderada procura de crédito e ao ambiente de taxas de juros baixas, bem como devido aos custos com provisões “persistentemente elevados”, defendeu a agência de rating.
O ambiente operacional deverá estabilizar gradualmente, acredita a Moody’s. “O PIB real de Portugal crescerá 3,7% e 4% em 2021 e 2022, respetivamente, após uma contração de 7,6% em 2020, mas não retornará aos níveis pré-pandémicos antes de 2023”, refere a Moody’s.
As condições de crédito devem beneficiar “durante o período de perspetiva” de um sector privado mais forte, que reduziu o seu endividamento nos últimos anos e de um aumento da poupança corporativa e familiar durante o surto de coronavírus, defende.
A Moody’s diz que essas circunstâncias devem permitir aliviar as dificuldades de reembolso dos créditos (em moratória), depois do encerramento do período da moratória e do fim das outras medidas de apoio devido ao encerramento da economia.
“As taxas de juros ultrabaixas persistirão por algum tempo, o que, juntamente com a modesta procura de crédito, continuará a pesar sobre as margens de juros líquidas dos bancos”, diz a Moody’s.
A agência antevê que a qualidade do ativo dos bancos se deteriorará. “Prevemos um aumento nos empréstimos problemáticos dos bancos portugueses este ano, uma vez que as medidas de apoio do governo que protegeram a qualidade dos seus ativos em 2020 começam a diminuir”, antevê a Moody’s, que lembra que os bancos constituíram provisões em 2020 contra perdas de crédito futuras, “mas acreditamos que não serão suficientes para cobrir a deterioração esperada na qualidade de seus ativos”.
O rácio médio dos bancos portugueses de empréstimos problemáticos sobre o total da carteira (bruto) era de 5,5% no final de setembro de 2020, uma queda significativa desde a crise financeira de 2008, mas ainda bem acima da média da União Europeia (UE) que é de 2,8%.
Segundo o Banco de Portugal, dados recentes revelam que este rácio caiu para 4,9% em 2020.
A Moody’s também prevê que o capital se manterá estável. “Prevemos poucas alterações na posição de capital dos bancos portugueses ao longo do período do outlook. O crescimento dos ativos ponderados pelo risco (RWAs) será moderado, em linha com o crescimento fraco do crédito concedido. Ao mesmo tempo, os bancos evitarão, em grande parte, perdas que possam prejudicar o seu capital”, defende a agência.
A Moody’s realça que a capitalização dos bancos portugueses continua fraca em comparação os seus pares da UE. “Isso reflete parcialmente o seu grande volume de ativos fiscais diferidos (Ativos por impostos diferidos – ou DTAs), que consideramos uma forma de capital de baixa qualidade”, alerta.
A rentabilidade dos bancos portugueses provavelmente permanecerá próxima aos níveis atuais durante o período da perspetiva, diz a Moody’s. Isto apesar de a baixa procura de crédito e as baixas taxas de juros continuarem a conter o crescimento da receita. Ao mesmo tempo o sector enfrentará mais custos com provisões/imparidades à medida que a qualidade dos ativos continuar a se deteriorar.
Após vários anos de redução de custos, os bancos portugueses têm um espaço limitado para novos ganhos de eficiência, alerta a agência.
A Moody’s defende ainda que a banca portuguesa tem condições de financiamento e liquidez amplamente estáveis, reforçada pelo aumento da base de depósitos durante a pandemia.
“Esperamos poucas emissões de mercado durante o período de perspetiva, exceto para cumprir os requisitos de “MREL” da UE, que exige que os bancos criem uma almofada de dívida bail-inável, para absorver perdas e proteger os contribuintes em caso de uma resolução bancária.
O apoio do Banco Central Europeu irá garantir que as reservas de liquidez do sector permanecem amplas.
“As premissas de suporte do governo não foram alteradas. Continuamos a assumir uma probabilidade moderada de apoio governamental aos dois maiores bancos portugueses. A introdução da Diretiva de Resolução e Recuperação Bancária (BRRD) da UE, projetada para proteger os contribuintes dos custos da falência de bancos, limita a capacidade do governo de ajudar o setor bancário”, lembra a Moody’s.
A Moody’s Investors Service publicou esta quinta-feira vários relatórios, referindo ao outlook de bancos de 11 países europeus. Resumindo, com as perspetivas que mudaram de negativo para estável estão cinco sistemas bancários. Nomeadamente da Finlândia, Hungria, Noruega, Portugal e Eslováquia.
Os sistemas bancários cipriota e grego foram alterados de estável para positivo.
A Moody’s manteve as suas perspetivas estáveis para os sistemas bancários da Áustria, República Tcheca, Irlanda e Polónia.
As perspetivas do sistema bancário representam a avaliação da Moody’s das condições de crédito fundamentais que afetarão a qualidade de crédito dos bancos num determinado sistema nos próximos 12-18 meses.
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