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Moody´s diz que bancos italianos, portugueses e irlandeses serão os mais afetados com a colaterização do malparado

A Moody´s diz que os bancos em países com regimes jurídicos menos céleres serão mais afetados com a colaterização do malparado. O BCE aperta o cerco aos bancos com exigência de provisões extra para malparado sem colateral suficiente.
17 Outubro 2017, 08h00

A Moody´s, numa nota intitulada “ECB’s NPL provisioning proposals are credit negative for euro area banks with high problem loans”, vem dizer que as novas propostas do BCE ao nível do provisionamento do crédito malparado são negativas para os bancos da área do euro que têm elevado volume de créditos em risco.

As novas medidas de provisionamento do BCE para o novo crédito malparado (a partir de 1 de janeiro de 2018) exigem que as instituições de crédito assegurem uma cobertura total da parte não garantida dos novos créditos improdutivos (NPL) ao fim de, no máximo, 2 anos e da parte garantida ao fim de, no máximo, 7 anos.

As propostas do BCE vão no sentido de exigir que os bancos imputem colaterais para cobrir a totalidade da parte não garantida do empréstimo (e por isso não recuperável) no prazo de dois anos. Ou seja a parte do empréstimo que não está garantida por colaterais dos clientes terá de ser alvo de um reforço de provisões no prazo de 2 anos.

O projeto está em consulta pública, mas os bancos italianos já se manifestaram contra.

Agora é a vez da Moody´s analisar o impacto das orientações do BCE para os bancos europeus. “As propostas do BCE acabariam por levar a balanços mais saudáveis ​​nos bancos, de acordo com requisitos propostos, mas os bancos que possuam elevados créditos improdutivos (NPL) e baixa cobertura por provisões provavelmente serão mais afetados pelo provisionamento adicional. Isso poderia causar problemas para alguns bancos, especialmente para aqueles que não possuem grandes recursos de capital “, disse Alain Laurin, diretor-gerente da Moody’s Associado e co-autor do relatório.

A nova orientação visa as 120 instituições financeiras chamadas de “significativas” e que por isso são diretamente supervisionadas pelo BCE.

A Moody’s espera, por um lado, que o impacto imediato seja pequeno, mas o alcance pode vir a ampliar-se ao longo do tempo.

Segundo o BCE as expectativas relativas às provisões prudenciais (colaterização do malparado) serão aplicáveis a todas as posições em risco classificadas como “não produtivas” a partir de 1 de janeiro de 2018, em linha com a definição da Autoridade Bancária Europeia (European Banking Authority – EBA).

Esta provisões tomam em consideração o tempo decorrido desde que uma posição foi classificada como “não produtiva” e a dimensão e a valorização das garantias prestadas.

Este apêndice do BCE reforça e completa as normas para a constituição de provisões para malparado especificando as metas quantitativas da supervisão relativas aos níveis mínimos das provisões prudenciais esperadas para as exposições a crédito em risco de mora (NPE).

As expectativas baseiam-se na quantidade de tempo que uma exposição foi classificada como não produtiva (vintage), assim como a garantia do cliente (se existir). As medidas devem considerar-se como “prudential provisioning backstops” destinadas a um tratamento prudente do crédito em incumprimento (NPE), e assim evitar no futuro a acumulação excessiva de créditos NPE “vintage” não cobertos por provisões nos balanços dos bancos.

Diz a Moody´s que o impacto desta nova orientação do BCE, que se aplica apenas a empréstimos problemáticos considerados como tal a partir de 1 de janeiro de 2018, seria gradual, distribuído nos prazos de dois e sete anos. “Como tal, o impacto inicial provavelmente será pequeno, ajudado por um clima atual geralmente benigno, com baixas entradas em malparado (NPLs). No entanto, o impacto final é provável que seja maior por várias razões:  A extensão da aplicação é susceptível de alargar ao longo do tempo, começa nas instituições significativas e acaba por se estender à gama completa de bancos supervisionados directa ou indirectamente pelo BCE, uma vez que o âmbito inicial mais estreito é susceptível de reflectir uma priorização do BCE baseada no impacto dos grandes bancos, mais do que uma distinção conceitual”, diz a Moody´s.

Uma eventual inversão do ciclo do crédito dará lugar a um fluxo de entrada de malparado (NPL) naturalmente maior e a provisões maiores do que atualmente, diz ainda a agência.

Diz a Moody´s que “é improvável que a aplicação da orientação do BCE apenas aos NPLs recém-formados seja sustentável. Em algum momento, parece ilógico manter no balanço empréstimos paralelos sujeitos a diferentes políticas de provisionamento. Para os bancos que já possuem elevadas coberturas de provisões nos seus créditos em riscos, isso não fará grande diferença. Mas para os bancos onde o stock de malparado NPLs mais antigos é mantido com menor provisionamento, o impacto será mais severo”.

Como tal, diz a agência, “acreditamos que isso acabará por causar aos bancos com menor cobertura por provisões, um reforço das provisões para crédito e levará o bancos a aplicar as novas orientações do BCE para todo o stock de malparado (e não apenas para o novo malparado a partir de 2018). Esta possibilidade é reconhecida pelo BCE na sua comunicação.

Neste cenário os bancos com NPLs mais altos e com menor cobertura de provisão, e aqueles em jurisdições onde os procedimentos judiciais (para fazer o write-off dos créditos) durarão mais do que os períodos de dois e sete anos estabelecidos na orientação, serão mais afetados. “Isso provavelmente será um problema para os bancos italianos, portugueses e irlandeses em particular, que já estão sujeitos a pressão para reduzir o seu elevado nível de empréstimos problemáticos” diz a Moody´s

O Banco Central Europeu está a apertar o cerco aos bancos através da exigência de provisões mais elevadas para créditos problemáticos. Na semana passada, no dia 12 de outubro, o BCE publicou as propostas sob a forma de uma “adenda” às suas orientações para os bancos da UE gerirem os seus créditos improdutivos (NPLs).

As novas provisões são “prudential provising backstop” para non-performing exposures (NPE) – em linha com a definição da Autoridade Bancária Europeia (EBA) – e são aplicáveis ​​no mínimo a novos NPE classificados como tal a partir de janeiro de 2018 em diante.

As novas propostas procuram garantir ainda que os bancos detêm provisões suficientes para o stock de crédito malparado (NPLs) em balanço.

As expectativas relativas às provisões prudenciais serão aplicáveis a todas as posições em risco classificadas como “não produtivas” a partir de 1 de janeiro de 2018, em linha com a definição da Autoridade Bancária Europeia (European Banking Authority – EBA). E tomam em consideração o tempo decorrido desde que uma posição foi classificada como “não produtiva” e a dimensão e a valorização das garantias.

A nova orientação do BCE é para aplicar a quaisquer empréstimos que se tornem improdutivos (ou seja, novos empréstimos duvidosos) após 1 de janeiro de 2018. Os empréstimos não garantidos devem ser totalmente provisionados dentro de dois anos e empréstimos garantidos por colateral, o mais tardar sete anos após terem sido classificados como NPL (non-performing loans).

As propostas do BCE estão na fase da consulta pública. O período de consulta decorre até 8 de dezembro de 2017 e inclui uma audição pública em 30 de novembro de 2017.

 

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