Têm sido recorrentes as queixas de alegados líderes empresariais de que não existe mão de obra disponível para trabalhar, na agricultura, na indústria e nas indústrias de acolhimento. Estes queixosos culpam os desempregados e o subsídio de desemprego por tal resultado e lançam o anátema da preguiça que o Estado social estaria a fomentar.
É lamentável que o façam, pois alguns destes empresários usufruem de uma grande visibilidade social e têm o dever moral e cívico de contribuírem para elevar o nível de debate. Além disso sabem que o tema da “Great Resignation” está na ordem do dia em várias sociedades afluentes.
Diga-se, para começar, que o nome de subsídio de desemprego é particularmente infeliz, dando a entender que é uma dádiva atribuída com os impostos dos cidadãos. Não é. O subsídio, em bom rigor, dever-se-ia chamar “seguro obrigatório de desemprego”. Seguro porque só é ativado na circunstância de uma situação de desemprego. Acresce que vigora apenas durante um período de tempo limitado. Obrigatório porque todos descontamos, mês após mês.
O que em alternativa estes alegados líderes poderiam questionar é por que razão as contribuições dos trabalhadores (e dos empregadores) para a Segurança Social não estão discriminadas por “apólice” ou coberturas aplicáveis (desemprego, invalidez, doença, reforma, parto, entre outras), para que a sociedade possa questionar e aperfeiçoar o que haverá a melhorar. E por que razão um quadro ou técnico desconta para a Segurança Social sobre a totalidade da sua remuneração, mas depois vê cerceado o subsídio (seguro) de desemprego a pouco mais de mil euros mensais.
Depois, como bem lembrava o responsável da Time Out Lisboa, o problema da restauração são os baixos salários, o trabalho por turnos insanos e o facto de os trabalhadores terem descoberto que existiam outros setores que pagam tanto ou mais e propiciam um melhor equilibro entre a vida familiar e a profissional. Os confinamentos Covid-19, por outro lado, obrigaram os trabalhadores dos setores de acolhimento a procurarem alternativas. Adicionalmente, as restrições nas viagens cercearam os fluxos imigratórios que impunham (e ainda impõem) uma pressão em baixa nas remunerações dos menos qualificados.
Em vez da lamúria em curso, pagar melhor aos trabalhadores, elevar as remunerações médias do trabalho (e não apenas o salário mínimo) é que deveria ser a prioridade nacional.
Como é evidente, o objetivo deveria ser desenvolver bens e serviços que sejam procurados pelos seus clientes finais, atraídos pela qualidade, reputação, inovação e desempenho dos seus produtos; ser capaz de gerar procura nos mercados internacionais que propiciam boas margens; e deter marcas valiosas na perspetiva dos clientes. Só isto assegura uma rendibilidade adequada dos capitais próprios e inerentes níveis de produtividade.
A incapacidade de concorrer com marcas admiradas nos mercados externos, explica esta ênfase de alguns ditos empresários (e credores externos) em querer tornar mais barato o custo do trabalho. Uma pretensão tanto mais notável numa altura em que os trabalhadores nunca foram tão qualificados e, arrisco dizer, em termos médios, mais qualificados que a média destes ditos líderes empresariais.
Querer restringir o alcance e a duração do seguro (dito subsídio) de desemprego, forçar os desempregados a trabalharem em qualquer coisa e a qualquer preço, ignorando que cada um deles pagou as mensalidades do seu prémio de seguro de desemprego, é aviltante.
Da minha parte, tudo a favor de uma ordem liberal de mercado, mas nada a favor de moralistas bafientos e de empresários de pacotilha.