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Morreu ex-ministro Joaquim Pina Moura

Antigo ministro da Economia e das Finanças, pasta que chegou a acumular, encontrava-se doente há vários anos. Não resistiu ao evoluir da situação.
  • Nuno Veiga/Lusa
20 Fevereiro 2020, 21h54

Morreu ao final do dia de hoje o antigo ministro Pina Moura, um dos mais influentes economistas da sua geração e um destacado dirigente do Partido Socialista, antes de há já alguns anos se ter retirado da vida pública.

Nascido em Seia a  22 de fevereiro de 1952, Pina Moura tinha ascendência judaica sefardita. Começou por estudar Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, onde foi dirigente da Associação de Estudantes. Acabou por mudar-se para Economia, tendo-se licenciado no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras da Universidade Técnica de Lisboa. Na mesma instituição obteve uma pós-graduação em Economia Monetária e Financeira, e exerceu funções docentes, como Assistente.

Filiado no Partido Comunista Português a partir de 1972, tomou parte da Comissão Nacional do III Congresso da Oposição Democrática, em Aveiro, em 1973. Foi então que se candidatou nas listas das Comissões Democráticas Eleitorais (CDE) às eleições para a Assembleia Nacional. Após o 25 de abril de 1974 dirigiu no Porto a União dos Estudantes Comunistas (UEC).

Dessa altura, contam-se as mais diversas peripécias. Pina Moura era observado como um dirigente severo, mas não tanto que fosse integrado na linha dura – que na altura era liderada, no Porto, por Teresa Medina. Pina Moura e a sua camarada desentenderam-se várias vezes sobre a melhor forma que a UEC devia seguir para crescer na cidade, tanto nos liceus como nas universidades.

O certo é que a preponderância da UEC – numa altura em que a extrema-esquerda era também muito ativa, nunca chegou a ser suficiente, nem para a vontade de Pina Moura, nem para os objetivos propostos pelo PCP. De qualquer forma, a posição de Pina Moura no interior da difícil hierarquia comunista (o célebre centralismo democrático), nunca esteve em causa.

Mesmo assim, Pina Moura acabaria por sair do partido, tendo sido acusado – como quase todos os que optaram pela mesma via – de desvio burguês. Teresa Medina, uma ortodoxa, foi na altura particularmente contundente, mas não o suficiente para se manter no partido, que também abandonaria anos mais tarde.

Em 1992, Pina Moura fundava a Plataforma de Esquerda, acabando por aderir ao Partido Socialista, em 1995. Ocupou os cargos de secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro, no XIII Governo Constitucional, até 1997, ano da sua nomeação como ministro das Finanças, chegando a acumular com a pasta da Economia.

Os empresários dividiam-se sobre esta acumulação. Para alguns, as duas pastas eram demasiado interpenetradas, e o facto de o ministro mandar nos dois lados da balança era tido como um benefício. Mas nem todos estavam convencidos disso, e muitos afirmavam que era poder a mais para um só homem. A norte, a presença de um antigo comunista nas pastas mais próximas da economia real manteve sempre os empresários inquietos.

Pina Moura foi deputado à Assembleia da República pelos círculos do Porto, de Lisboa e da Guarda (entre 2002 e 2007) entre 1995 e 2005.

Enquanto ministro da Economia e das Finanças, teve em mãos a reestruturação do sector energético, um tema que motivou polémica e que justificou a criação de uma comissão de inquérito parlamentar relativo à entrada da Eni e da Iberdrola no capital da Galp. Após sair do Executivo e depois de uma curta passagem pelo Parlamento, Pina Moura passou para o sector privado, ocupando o lugar de presidente da Iberdrola em Portugal.

Era Professor Catedrático Convidado do ISEG e do ISG – Instituto Superior de Gestão desde 2005, consultor externo do Conselho de Administração do Banco Comercial Português, vogal do Conselho de Administração da Galp Energia e presidente da Iberdrola Portugal desde 2004.  Pina Moura foi ainda presidente do Conselho de Governadores do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento. Abandonou todas as funções quando a doença começou a incapacitá-lo.

O ministro de Estado e da Economia já apresentou as suas condolências à família em nome do Governo.

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