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Morreu o jornalista Luís de Barros, ex-editor do Diário Económico

Passou pelo Expresso e pelo Diário de Notícias, onde foi diretor de José Saramago. Chegou também a ser presidente do Sindicato de Jornalistas e subsecretário de Estado em dois governos provisórios a seguir ao 25 de abril.
21 Novembro 2019, 16h52

Morreu ontem, aos 78 anos de idade, o jornalista Luís de Barros que, entre tantas outras coisas, foi editor do Diário Económico, jornal já desaparecido onde terá encerrado a sua longa carreira. Muito antes disso, e após ter frequentado a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, iniciou a atividade jornalística em 1968 no jornal A Capital, também já desaparecido.

Foi subchefe de redação do Expresso e diretor do Diário de Notícias durante o conturbado período do PREC (processo revolucionário em curso) – não só na rua como também no interior daquele jornal, que ainda existe: no verão de 1975, que passou para a história como o ‘Verão quente’, e numa altura em que Luís de Barros se encontrava de férias, foram saneados 24 jornalistas que tinham reclamado contra a falta de pluralismo ideológico no jornal, na altura considerado pró-comunista. O diretor-adjunto do DN à época era José Saramago, que haveria de ser Prémio Nobel da Literatura, a quem foi diretamente imputada a responsabilidade desses despedimentos.

Luís de Barros, nascido em Albergaria-a-Velha em 14 outubro de 1941, foi também chefe de redação de O Diário (igualmente desaparecido) e da agência russa Novosti, considerada uma voz alternativa às notícias oficiais da também já desaparecida União Soviética.

A sua presença no Diário Económico é recordada por todos os jornalistas que passaram pelo jornal depois da fase de arranque (o autor deste texto inclui-se nesse grupo). No meio da barafunda e frenesim que era o fecho da edição todos os princípios de noite, Luís de Barros parecia uma ilha no meio de um mar em desalinho. Era ele quem fazia aquele barco prestes a naufragar regressar ao rumo mais aprumado que permitia que o jornal acabasse por sair todos os dias.

Era também, juntamente com João Paulo Guerra, a memória viva da redação: no meio de uns quantos jovens jornalistas que ainda não tinham idade e nunca tiveram tempo para juntar memórias, Luís de Barros era uma referência a que tantas vezes era preciso recorrer para enquadrar factos e acontecimentos ou simplesmente para explicar com o recurso à história contemporânea, ainda tão quente, ocorrências que pareciam desfasadas de qualquer contacto.

Ninguém possivelmente se recordará de alguma vez Luís de Barros levantar a voz, ter um gesto de enfado ou demonstrar indisponibilidade para ouvir. Era, por tudo isto, um dos jornalistas mais respeitados dos jornais por onde passou.

Foi ainda presidente do Sindicato dos Jornalistas antes do 25 de Abril; depois da Revolução foi subsecretário de Estado da Comunicação Social nos II e III governos provisórios. Foi casado com a escritora Maria Teresa Horta desde a década de 1960. Tiveram um único filho, Luís Jorge Horta de Barros (4 de abril de 1965), casado com Maria Antónia Martins Peças Pereira, com dois filhos, Tiago e Bernardo Barros.

O corpo de Luís de Barros partiu esta tarde da Igreja de São João de Deus, em Lisboa, para o cemitério do Alto de São João. Até sempre, querido Luís.

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