Terminaram os debates entre os líderes dos partidos políticos com assento parlamentar. Em formatos curtos, sincopados, talvez mais adaptados aos tempos do imediatismo, do barulho, mas ainda assim com larga audiência, vivacidade e uma capacidade notória de suscitar interesse e paixões contraditórias.

Tratou-se de um bom serviço para a democracia eleitoral. Contudo, tendo prestado aos debates a atenção de um cidadão mediano, houve dois temas que me chamaram a atenção pela sua estridente ausência. Refiro-me à segurança europeia e o que chamaria a falta de Mourinhos.

Começo por este último. Neste ciclo de debates tivemos candidatos que são bons oradores, preparados, amiúde com cultura e urbanidade, mas cujo desempenho profissional, no mínimo, podemos considerar dececionante.

Apenas um deles tem experiência governativa que possamos descrever como menos que sofrível, qualquer que seja o ângulo de análise.

Apenas um dos candidatos é uma figura medianamente credenciada na área científica da sua formação de base.

Nenhum é uma figura de topo em qualquer profissão, nem mesmo daquelas nas quais ganharam experiência profissional ou académica.

Não deixa de ser espantoso como num país que vê os seus jovens emigrarem abundantemente, como se houvesse por cá uma qualquer ditadura ou uma guerra colonial em curso, não haja uma maior cultura de exigência.

Um país cujo bem-estar, risco de pobreza ou acesso a saúde de qualidade está a resvalar, em comparação com o resto do mundo e com os outros países da Europa. Um país onde nenhum dos principais candidatos alguma vez geriu, bem, uma autarquia, uma empresa, uma organização do terceiro setor, uma associação profissional, ou um clube. Nada de nada no que toca a provas dadas no desempenho de qualquer coisa minimamente relevante.

Ora, ser candidato a primeiro-ministro é infinitamente mais complexo do que qualquer dos exemplos citados. Por isso, fico estupefacto com o facto de aceitarmos, placidamente, que qualquer um faça de Mourinho sem nada ter para mostrar.

Quanto aos temas de segurança nacional e europeia, é espantosa a sua ausência nos debates. Numa altura em que a invasão russa da Ucrânia assinala dois anos, em que o compromisso dos EUA relativamente à NATO pode estar em causa, com todas as consequências que daí advêm, os candidatos nada disseram sobre estes temas. Nem uma palavra.

Enquanto cidadãos, temos de ser mais exigentes. Mais participativos. Só assim conseguiremos elevar a fasquia da qualidade que a todos nos irá beneficiar.