O ato eleitoral era aguardado com inusitado interesse e não apenas em Angola. Importava saber como iriam reagir os eleitores à transmissão de testemunho por parte de Eduardo dos Santos após 38 anos no Poder. Transmissão incompleta. As decisões presidenciais à beira das eleições trouxeram à memória a estratégia dos descolonizadores do Império Euromundista: ficar fingindo partir.

Uma herança pesada. Angola figura entre os 10 países africanos mais mal governados e é o 13.º mais corrupto numa lista de 176 países.

Uma parte considerável do eleitorado podia votar pela primeira vez. Algo que decorre de uma pirâmide etária progressiva ou jovem. Todos os anos a população cresce entre 600 000 e 800 000 e 70% dos angolanos têm menos de 25 anos.

Interessava ver se os novos eleitores iriam votar e, em caso afirmativo, o sentido desse voto. Importava, também, saber se o MPLA venceria – e com que números – na província de Luanda, a montra e a sede do Poder. Dado importante porque o sistema eleitoral, para além da singularidade de juntar as legislativas e a presidencial num único ato e de garantir que o primeiro nome da lista vencedora é automaticamente Presidente da República, mistura 18 círculos provinciais e 1 nacional.

Luanda, como qualquer outra província, só tem direito a 5 deputados, mas o facto de contar com quase 3 milhões de eleitores é relevante para a eleição de 130 dos 220 lugares da Assembleia Nacional.

Os dados da CNE, a serem reais, indicam que a taxa de abstenção desceu para 23,41% e que o MPLA, vencedor nas 18 províncias, terá maioria qualificada com 150 deputados, a UNITA logrará 51, a CASA-CE 16, o PRS 2 e a FNLA 1. Caso para o partido proclamar: Angola é nossa!

Uma verdade que, porém, será transitória se o MPLA não evoluir. Em relação a 2012, o partido, para além de ter perdido 25 lugares, só conseguiu eleger a totalidade dos deputados em 5 províncias enquanto nesse ano tinha feito o pleno em 10. Em contraciclo, a UNITA cresceu 19 mandatos e aumentou o pecúlio em mais de 700 000 votos.

Porém, são os números de Luanda que constituem a maior preocupação para o MPLA, partido que, desde a fase colonial, contou sempre com o apoio dos musseques.

Ora, em Luanda a supremacia face à UNITA foi curta: 3 deputados e cerca de 1 016 655 votos contra 2 deputados e 748 839 votos do partido do Galo Negro. Com a agravante – ou a vantagem, dependendo da perspetiva – de a oposição, em conjunto, ter vencido.

Quanto às outras províncias, o trabalho está facilitado. Será Lourenço a escolher os governadores e as autarquias só existem na Constituição. Desconcentração não significa descentralização.

Uma evolução na continuidade? Só no imediato. Os tempos são outros. João Lourenço é general, mas só de três estrelas. Número inferior ao dos problemas prioritários que irá enfrentar.