A vitória de Emmanuel Macron veio lembrar os problemas económicos em França e de como estes se refletem no crescimento da Europa. Independentemente das condições políticas que o novo presidente gaulês terá para concretizar o seu programa de inspiração social-liberal, parece evidente que a França deve mudar de vida. Uma mudança que, tendo em conta o peso da França na UE, não deixará de produzir efeitos no resto da Europa, onde muitos outros países enfrentam os mesmos obstáculos ao desenvolvimento socioeconómico.
A França tem vindo a perder influência no mundo globalizado em que vivemos, mercê da sua relutância em abandonar uma tradição política fortemente estatista que é responsável pela elevada fiscalidade, pela rigidez do mercado de trabalho, pela baixa produtividade laboral, pela macrocefalia do Estado e pela falta de iniciativa empresarial. Graças a esta conjugação de fatores, o país que Macron vai liderar regista hoje um crescimento anémico, assiste a uma escalada da despesa pública, tem escassez de emprego e a sua competitividade externa é débil.
Neste sentido, um bom resultado nas eleições legislativas do République en Marche, de Macron, é fundamental para a introdução de reformas estruturais na economia francesa. Reformas, essas, que promovam uma estratégia de crescimento económico assente no aumento da produtividade, na eliminação de barreiras à competitividade, na diminuição do peso regulador do Estado, na flexibilização das leis laborais, na redução da carga fiscal e no alargamento dos incentivos às empresas. No fundo, trata-se de reconciliar os franceses com a iniciativa privada e, ao mesmo tempo, revalorizar o trabalho numa sociedade com largas franjas de inativos, em particular entre os jovens.
A Alemanha fez essas reformas durante a governação de Gerhard Schröder (1998 a 2005) e, hoje, está a colher os seus frutos ao nível da competitividade e da produtividade, sobretudo. Agora é a vez da França dinamizar a iniciativa privada, condição essencial não só para promover o crescimento como para ganhar capacidade redistributiva e dar sustentabilidade ao Estado social. A França que aprendemos a admirar e respeitar pela sua grandeza histórico-cultural mas que, nas últimas décadas, tem exibido uma inexorável resistência à mudança, deve, pois, cumprir o papel que dela esperam franceses e europeus.
No contexto da UE, uma França forte e competitiva pode ser, em simultâneo, um parceiro ativo da Alemanha e um contrapeso ao poder germânico. Isso significaria, em suma, o renascer do eixo franco-alemão, mas agora em moldes mais equilibrados e sem perder de vista os princípios da solidariedade europeia. Por outro lado, o exemplo francês poderá forçar à mudança outros países europeus com o mesmo tipo de estrangulamentos ao nível do crescimento, competitividade e emprego.
O relançamento do projeto europeu passa, em boa medida, por uma França social-liberal, que ajude a uma convergência de vontades entre os países adeptos da austeridade orçamental e os países mais abertos a políticas expansionistas. Tudo isto para que se consiga conciliar crescimento e competitividade com emprego e coesão social, no quadro de uma União Económica e Monetária reforçada.