Desde o início do milénio, temos vindo a assistir a um aumento significativo nos gastos com a saúde em Portugal, que mais que duplicaram, passando de 11 mil milhões de euros para os atuais 25 mil milhões. Se tal pode sugerir um compromisso crescente com o bem-estar da população, a análise desses números revela uma tendência preocupante: ainda direcionamos a nossa atenção de forma desproporcional para o tratamento em detrimento da prevenção.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) tem vindo a destacar esta questão de forma consistente. Portugal continua a gastar mais recursos no tratamento de doenças do que na prevenção, colocando-nos como o quarto país com menor gasto per capita em programas de prevenção. Além disso, os números revelam que estamos abaixo da média da OCDE nesse aspeto. Apenas 1,9% dos nossos gastos com saúde são alocados a medidas de prevenção, enquanto 64,1% são destinados ao tratamento de doenças de curta e média duração.

Estes dados exigem uma reflexão profunda sobre a nossa abordagem à saúde. É inegável que o tratamento adequado é fundamental para garantir a recuperação e a qualidade de vida das pessoas afetadas por doenças. No entanto, a ênfase excessiva no tratamento acarreta custos elevados e uma sobrecarga no sistema de saúde, que poderiam ser evitados através de estratégias de prevenção eficazes.

A prevenção desempenha um papel crucial na promoção da saúde e no alívio da pressão sobre os recursos de saúde. Investir em programas de prevenção, educação em saúde e promoção de estilos de vida saudáveis é uma abordagem que pode reduzir significativamente a incidência de doenças crónicas, como diabetes, doenças cardiovasculares e alguns tipos de cancro. Essas medidas não apenas melhoram a qualidade de vida das pessoas, mas também economizam recursos que, de outra forma, seriam gastos em tratamentos dispendiosos.

É urgente alterar este paradigma. Cada um de nós tem um papel a desempenhar na promoção da prevenção. Isso começa com a adoção de hábitos de vida saudáveis, como uma dieta equilibrada, exercício regular e a renúncia ao tabagismo e ao consumo excessivo de álcool. Além disso, é importante que a sociedade como um todo exija políticas públicas que priorizem a prevenção e destinem recursos adequados a essa área.

Os números alarmantes que refletem a disparidade entre os gastos com tratamento e prevenção em saúde em Portugal devem servir de apelo para uma ação, individual e conjunta. É hora de mudar o nosso foco e reconhecer que a prevenção é a chave para uma sociedade mais saudável e sustentável.

A partir de 2024 serão criadas 31 novas unidades locais de saúde que podem ser um ponto de viragem, o mote para olharmos para a saúde e não para a doença. Todos, desde os cidadãos comuns até aos decisores políticos, temos um papel a desempenhar nesta transformação fundamental da nossa abordagem à saúde.