As eleições autárquicas aproximam-se e, com elas, as lutas desiguais por este país fora. Não em todas as 308 câmaras municipais, mas em muitas, cresce a utilização de meios públicos para campanhas puramente eleitorais. São inúmeros os presidentes ou vereadores candidatos à liderança que, a menos de 90 dias do ato eleitoral, se desdobram em ações de marketing com “capa” pública, fazendo inaugurações de circunstância, que só acontecem de quatro em quatro anos, ou simulando trabalho que não fizeram.

Isto para não falar daqueles que, oriundos do poder camarário vigente, utilizam as suas candidaturas para tentar condicionar dirigentes de instituições, associações, coletividades e freguesias, semeando o pânico da mudança e atribuindo nesta altura mais umas migalhas em subsídios e deliberações, na expectativa de tirarem benesses eleitorais.

Quem se candidata contra o poder vigente, tem pois de ser bem resiliente e imbuído de espírito de missão, comprometido com todos os seus cidadãos, pois a disputa é desigual.

Vem isto a propósito de um certo candidato (oriundo do poder vigente) estar a utilizar a sua posição atual de vereador para promover reuniões, não com as populações, mas sim por intermédio do poder orçamental que tem, reunir em cada uma das freguesias com as associações e coletividades, prometendo “mundos e fundos”, sendo que até ao momento ainda ninguém o viu junto das populações. De dia ou de noite, reúne apenas com associações e dirigentes, umas vezes como vereador, outras como candidato, para fazer promessas e mais promessas, mas com gente nem vê-lo. Terá medo do Povo?

Nesta autarquia em concreto, onde existem para cima de mais de uma centena de coletividades, que não será o espelho do país, este modus operandi é feito de uma forma mecanizada pelo poder instalado, um tipo de campanha “por debaixo da mesa”, que acaba por tentar instalar o medo e condicionar a escolha no momento da votação dos visados e das pessoas à sua volta. Tentam utilizar os vários subsídios para instituições, sociais, desportivas e culturais (que deles necessitam para existir), para dar também a entender que, se isto mudar, os mesmos podem acabar.

Compete a todos os agentes políticos e públicos transmitir a essas instituições que, em caso de mudança, estas funcionam e os apoios do Estado (que vêm dos nossos impostos) continuam e seguirão a mesma linha de protocolos de funcionamento.

Como dizia um dos fundadores da democracia em Portugal, ninguém deve temer, pois a “intervenção ativa é a única possibilidade que temos de tentar passar do isolamento das nossas ideias e das teorias das nossas palavras à realidade da atuação prática, sem a qual as ideias definham e as palavras se tornam ocas. Trata-se, portanto, de um direito e de um dever que nos assiste como simples cidadãos, pelo qual não nos devemos cansar de lutar e ao qual não nos podemos esquivar de corresponder”.

Basta de ditaduras no poder local, onde já há muito deviam estar erradicadas. Vamos, sem medos, lutar pela igualdade de oportunidades, pela democracia, por um país mais justo e solidário. Quem não deve, não deve temer esta luta.