É certo que nas últimas semanas foram apresentadas diversas medidas para a digitalização, mas todas juntas somam uma mão cheia de nada no que toca à melhoria da vida das pessoas e das empresas. Neste enquadramento, os Estados-Membros devem apresentar à Comissão Europeia os seus roteiros nacionais para a digitalização, detalhando as ações que planeiam implementar para atingir coletivamente as metas da Década Digital de 2030. Portugal, mais uma vez, de forma descomprometida, partilha parcialmente os seus dados quanto à digitalização e modernização nacional. O roteiro português não inclui quaisquer trajetórias ou estratégias, o que torna difícil avaliar o ritmo de implementação dos projetos e mensurar o impacto dos mesmos na sociedade. Será uma tarefa hercúlea transparecer o estado da digitalização nacional?
Segundo o “Report on the State of the Digital Decade 2024“foram incluídas apenas algumas das metas nacionais esperadas, aquelas que estão relacionadas com as competências digitais, pelo menos num nível básico de intensidade digital das PME, dos unicórnios e uma meta conjunta para a adoção da IA, de cloud ou de análise de dados. Portugal está bem equipado para a transição digital, por dispor de uma ótima infraestrutura de telecomunicações. Porém, a literacia digital carece de esforços sustentáveis sobre o aumento contínuo do nível de competências digitais dos portugueses, bem como em formar especialistas em tecnologias de informação (TIC). Hoje, a percentagem de especialistas em TIC empregados é inferior à média da UE, com uma tendência decrescente de mulheres na profissão. O roteiro português não apresenta medidas que contribuam para o cultivo da transição digital verde. Este fato aplica-se tanto no sector público, como na falta de promoção e incentivo de iniciativas para o sector privado – Por exemplo, implementar uma estratégia de compras ecológicas, ou incluir estímulos para promover a circularidade nos contratos de compra de bens e serviços.
No geral, Portugal fica aquém! Mostra, parcialmente, esforços em muitas dimensões, contudo exige-se mais trabalho em múltiplos aspetos, dadas as metas ambiciosas a nível nacional e da EU. As medidas relativas às competências digitais poderiam beneficiar de uma reorientação, especialmente para os especialistas em TIC, uma vez que Portugal precisa de aproximadamente duplicar o número atual de profissionais nesta área. Além disso, os recursos dedicados à digitalização nas empresas devem ser aumentados devido ao atraso observado em comparação com a UE. Por último, de forma a dar continuidade ao bom desempenho em alguns casos como na conectividade, é crucial a criação de um roteiro que acompanhe e garanta uma melhor coordenação com a EU para que, pelo menos nestes fatores, Portugal não morra na praia.
No final das contas Portugal está comprometido com tudo, mas as ações são poucas, o acompanhamento e mensuração é parca e os efeitos não tem visibilidade interna, nem externa. É caso para dizer quem muito compromete pouco partilha.