De 1979 a 2016 o Reino Unido teve cinco primeiros-ministros, sete anos para cada um em média. De 2016 a hoje, teve outros cinco, pouco mais de um ano cada. É uma mudança notável, com o Brexit como pano de fundo.
É verdade que no primeiro bloco a média esconde os onze anos de Margaret Thatcher, o maior período no cargo no século XX, e os três anos de Gordon Brown, o que ilustra um inconveniente da média como medida estatística: com os pés no frigorífico e a cabeça no forno, estou em média a uma temperatura agradável.
Mas no segundo bloco temos Theresa May e Boris Johnson, com três anos no cargo cada um, e ainda Liz Truss, que o ocupou 49 dias (44 dias é errado, pois o Partido Conservador levou cinco dias a escolher o sucessor, o que neste caso é uma diferença significativa).
Vamos ver quanto dura Rishi Sunak, o homem que, por dizer a verdade e assim irritar os colegas, perdeu a corrida a líder dos conservadores (e primeiro-ministro) para Truss, que lhes disse o que queriam ouvir, conquistou o lugar e provou não estar à altura da tarefa ao patrocinar o mini orçamento de Kwarteng, o seu ministro das Finanças, que só não teve o mandato mais curto no Reino Unido pós-Segunda Guerra Mundial, com 38 dias, porque Iain Macleod faleceu no cargo ao fim de 30.
Voltemos ao pecado original, o Brexit.
O erro histórico da Inglaterra, que nele arrastou o resto do Reino Unido e que resultou de um slogan bem concebido, uma campanha bem montada e adversários demasiado confiantes, para não falar de técnicas de propaganda política, digamos, originais, e pôs no poder um primeiro-ministro sui generis que, pelas suas gafes e excessos desde quando era ministro dos Negócios Estrangeiros, fez muita gente perder a confiança nos conservadores.
Ora, na sondagem da Omnisis de 22 de dezembro, 58% consideram que foi uma decisão errada e 42% certa; na da Kantar de 12 de dezembro, 45% acham-na errada e 35% certa, com 20% de indecisos; na da YouGov de 30 de novembro, para 54% foi errada e 34% certa, com 13% de indecisos.
Daí o esforço dos conservadores numa campanha que defende que os efeitos positivos só surgirão a longo prazo e que os efeitos negativos são temporários. Se o sabiam, porque só o dizem agora? É caso para relembrar o velho ditado: mais vale dividir um prato de morangos com os amigos que comer um balde de porcaria sozinho.
Sunak enfrenta um desafio terrível: restaurar a solidez económica a um país que tem pela frente a maior queda do nível de vida de que há registo (segundo a OCDE, no G20 só a Rússia terá pior performance nos próximos dois anos), e com isso restaurar a credibilidade da classe política. E, para isso, tem de ter toda a nossa ajuda.
Na altura em que se clarificam os desafios estratégicos a prazo para a Europa e para o mundo, e em que estamos numa corrida de fundo pela sobrevivência do nosso modo de vida livre e democrático, é impossível imaginar o futuro da Europa continental dissociado do Reino Unido.