O Relatório Draghi faz um diagnóstico sombrio da competitividade da Europa face aos Estados Unidos e à China. A economia europeia tem-se arrastado de tal forma que seria apropriado intitular o relatório de “Dragging Report”. As opções de política da União Europeia reflectem, por um lado, os valores europeus e, por outro, a incapacidade de formular políticas que sejam verdadeiramente supranacionais e de interesse comum.

A competitividade da economia europeia é a vítima. A distância competitiva da Europa face à China e aos EUA em tecnologias avançadas como computação quântica, inteligência artificial, ciber-segurança, semicondutores, cloud e edge computing, entre outras, é altamente preocupante e já difícil de reduzir. Como estas tecnologias prometem transformar as indústrias tradicionais, a UE sairá duplamente a perder. As implicações serão devastadoras.

Em Portugal, muitas vozes qualificaram o relatório Draghi de formidável e rapidamente chamaram os líderes europeus a suportar o plano. Mariana Vieira da Silva, na Rádio Renascença, até conseguiu sonhar um paralelo entre o Relatório Draghi e as políticas de António Costa! Este apelo ao consenso e à responsabilidade que os políticos portugueses sempre pedem aos políticos europeus (particularmente o PS) releva uma enorme hipocrisia.

Portugal é um microcosmo (para pior) da Europa. Tem exactamente os mesmos problemas, mas de forma muito mais aguda. Produtividade baixa. Capacidade de inovação fraca. Burocracia e excessos regulatórios medonhos. Um estado social preso por arames. Portugal consegue ser tão ou mais lento a consensualizar, decidir e executar quanto um bloco composto por 27 Estados-membros.

Devo dizer que o programa do actual Governo tem fortes paralelos com o relatório Draghi: simplificação burocrática e regulatória, economia sustentável, inovação e empreendedorismo, e a questão energética constam do programa da Aliança Democrática.

O programa nem é sequer ambicioso na reforma do Estado, e devia apostar ainda mais na promoção da inovação em todas as suas vertentes. Apesar disto, as negociações do orçamento proposto pelo Governo têm sido um circo, sendo os principais protagonistas os maiores partidos da oposição.

Pedimos à Europa a capacidade de consenso e de mobilização para enfrentar os problemas que não exigimos a nós mesmos no plano interno. A Europa não vai resolver os nossos problemas. E parece que os nossos políticos de paróquia também não.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.