O (mais ou menos próximo) fim da bitcoin, o rebentar de uma possível bolha ou as valorizações e quedas pronunciadas têm sido questões que dominam o discurso sobre criptomoedas. Apesar de pertinentes, estes temas poderão estar a afastar o foco de uma questão maior: as potencialidades da tecnologia Blockchain.
A tecnologia por trás das criptomoedas – o Blockchain – utiliza um livro-razão (ledger) partilhado, onde são validadas pelos participantes e ficam registadas transações, de forma permanente. Além de criptomoedas, a tecnologia pode ser utilizada para inúmeros tipos de plataformas e aplicações.
“Cautela em relação à bitcoin e bullish sobre a tecnologia subjacente Blockchain – parece ser este o consenso entre decisores políticos e líderes empresariais”, escreveu Richard Turnill, estrategista-chefe de investimento global da BlackRock, numa nota aos clientes.
Turnill explicou que a própria natureza das criptomoedas faz delas um “alvo de investimento traiçoeiro”, referindo-se a questões como as oscilações dramáticas nos preços, falta de regulação ou as falhas de segurança nas transações.
“A avaliação é difícil porque os ativos cripto não têm cash flow, lucros ou juros. As utilizações variam de apostas especulativas a métodos de pagamento. No entanto, o mercado está a evoluir”, disse.
Essa evolução prende-se com uma transição do foco das criptomoedas para a tecnologia em si mesma. Esta mudança já tinha acontecido dentro do setor, mas parece estar a tornar-se mais abrangente, incluindo entre instituições.
Um mês após ter lançado o Observatório e Fórum da UE para a Tecnologia de Cadeia de Blocos (Blockchain), a Comissão Europeia realizou esta segunda-feira uma mesa redonda sobre o assunto. O encontro terminou com o vice-presidente da comissão, Vladis Dombrovskis, a afirmar que “o Blockchain é uma forte promessa para os mercados financeiros” e que “para continuar competitiva, a Europa tem de adotar esta inovação”.
O debate focou-se nas implicações das criptomoedas para os mercados financeiros, riscos e oportunidades associadas à utilização destes ativos e o desenvolvimento de initial coin offerings.
Apesar de a regulamentação ser um tema incontornável, Bruxelas deixou o tema para mais tarde. O vice-presidente da Comissão acrescentou que a instituição irá determinar a necessidade de uma ação regulamentar. Até essa altura, propôs que as trocas de divisas digitais fiquem sujeitas à Diretiva Europeia contra o Branqueamento de Capitais.
Bruxelas tomou assim uma posição de abertura – que não deixou de ser plena de alertas sobre os riscos das criptomoedas – antes do primeiro encontro do grupo de trabalho anti-corrupção, do G20, que se realiza esta quarta e quinta-feira.
A reunião deverá ainda ser preliminar e não são esperadas grandes conclusões, mas a Blackrock está confiante no futuro do setor. “Vemos o uso das criptomoedas a tornar-se, potencialmente, mais alargado no futuro, à medida que os mercados amadurecem. No entanto, para já acreditamos que devem ser considerados apenas por aqueles que tenham estômago para possíveis perdas totais. De forma semelhante, o Blockchain tem de ultrapassar obstáculos significativos para alcançar o seu futuro promissor”, acrescentou Turnill.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com