Os extraordinários avanços da Inteligência Artificial, põem a nu uma verdade ineludível: a maioria das profissões, como hoje as conhecemos, vai desaparecer. A Universidade de Oxford publicou há poucos meses um estudo em que afirma perentoriamente que, no decorrer das duas próximas décadas, 47% de todos os postos de trabalho nos Estados Unidos deixarão de existir. Se, por acaso, os leitores tiverem 55 anos, a probabilidade que o seu posto de trabalho seja extinto é uma em quatro. Se tiver 45, essa probabilidade duplica.
Possivelmente pensará que a sua profissão, para a qual estudou anos numa boa faculdade, está ao abrigo desta devastação. Mas não. Por exemplo, se a sua posição é hoje middle-manager, as notícias não são boas: os middle-managers ocupam a primeira posição da lista da Universidade de Oxford. Na lista estão também médicos (sobretudo ligados ao diagnóstico, analistas e imagiologistas), analistas financeiros, publicitários e jornalistas. Trump não precisa preocupar-se, os jornalistas estão mesmo condenados.
Todos entendemos que as empresas têm que se manter competitivas e que daí decorre uma permanente preocupação com a automatização para reduzir custos. Ora, os salários (=empregos) são um importante constituinte desses custos. É ponto assente que as empresas devem baixá-los em permanência. Mas, o que aqui procuro estabelecer é o princípio que os benefícios decorrentes da eliminação de empregos por automatização não podem engrossar apenas a remuneração de acionistas. Neste contexto, mesmo Satya Nadella, CEO da Microsoft, afirmou no ano passado em Davos que “temos que pensar em formas ativas de redistribuir o excesso” – referia-se ao lucro em excesso. A preocupação é geral.
Portanto, admitindo desde já que até Bill Gates anda por aqui, aceitamos tacitamente que a procura da automatização e redução de custos não pode nem deve ser parada. Mas os que são apanhados por este movimento não podem, simplesmente, ser descartados pelo que alguma garantia e proteção lhes devem ser estendidas pelo Estado, que para isso está. De onde decorre um simples pensamento. Por cada vez que um robô ou um inovador software substituam um emprego, a empresa deverá manter as contribuições para a segurança social equivalentes ao número de postos de trabalho eliminados. Deverá também manter o pagamento de IRS equivalente aos salários que deixará de pagar. Poderá guardar para si, sob forma de lucros, todo o montante de salários devidos pelos postos de trabalho eliminados. Daí remunerará o capital empregue na automatização e os próprios acionistas. As empresas reduzem custos e aumentam lucros e as pessoas continuam protegidas por uma rede de segurança social devidamente financiada.
Se assim não for o risco é de vermos crescer a revolta populista contra o desenvolvimento tecnológico e de assistirmos à acelerada falência da segurança social, confrontada com o duplo golpe da redução do número de contribuintes e do aumento dos subsídios de desemprego.