De 25 a 28 de Julho realizou-se em Caracas o XXV Encontro do Fórum de São Paulo, sob o lema “Pela Paz, Soberania e a Prosperidade dos Povos. Unidade, Luta, Batalha e Vitória!”. Participaram mais de 1.200 delegados e convidados nacionais e internacionais de 150 organizações e 70 países. Uma clara expressão de unidade anti-imperialista e de solidariedade com os povos latino-americanos e caribenhos que enfrentam a ingerência e ataques à sua soberania pelo imperialismo norte-americano e o conluio das oligarquias nacionais.

Em várias sessões temáticas e plenárias do Fórum reuniram-se partidos e forças democráticas, progressistas e revolucionárias de toda a América Latina e Caraíbas e convidados de outros continentes. Denunciaram a agenda neoliberal e a incessante campanha de deslegitimação dos processos progressistas na região. Expressaram a solidariedade, em particular ao povo venezuelano, que acolheu o Fórum.

Para os principais órgãos da Comunicação Social portuguesa, inclusive os ditos de “referência”, tal Encontro não existiu. Apesar das toneladas de notícias despejadas durante meses sobre a Venezuela, nem o facto de se realizar em Caracas e de ter constituído uma visível manifestação de solidariedade com a Revolução Bolivariana os comoveu.

Uma excepção, e notável, no Expresso de 3 de Agosto, sob o título “Esquerda volta costas a Maduro”, do seu correspondente em Buenos Aires. Não se pode dizer que é uma notícia falsa, uma das nomeadas fake news. É de facto mais uma peça jornalística fabricada, da campanha imperialista comandada pelos EUA contra a Venezuela. Mais uma peça que os media dominantes vão reproduzindo, sem qualquer objectividade ou critério deontológico.

A presença e a expressão viva de 150 partidos e forças democráticas e revolucionárias, de esquerda, entre os quais partidos da social-democracia e da Internacional Socialista, de toda a América Latina e Caribe é a evidência – não carece de demonstração – da contradição absoluta com o título e o conteúdo da notícia. Aliás bastaria atentar na “ignorância”(?!) do correspondente quando assim descreve, entre outras falsidades, o Fórum de São Paulo: “Trata-se de uma Plataforma da esquerda para manifestar apoio internacional a Maduro”. Ou a informação de que se reúne anualmente. Ou indiciar de que é, ou tem sido, um Encontro de Presidentes da República e Chefes de Estado da região!

O Fórum de São Paulo é uma criação de Lula, então Presidente do PT, e de Fidel de Castro, em 1990. Um grande espaço de debate das forças progressistas latino-americanas para aprofundar a reflexão e a procura de respostas, de acção, em consenso e unidade, na luta popular e anti-imperialista.

Se tivessem estado em Caracas, os jornalistas portugueses teriam ouvido nas diversas iniciativas do Fórum, na grande manifestação de muitas dezenas de milhares de venezuelanos no sábado, 27 de Julho, entoar a milhares de vozes: “El derecho de vivir em paz”. A palavra de Victor Jara, assassinado em 1973, por Pinochet e o imperialismo norte-americano, ressoava do fundo da tragédia da história da América Latina e Caribe, das “veias abertas” dos seus povos. E em coerência, gritavam: “Tirem as patas da Venezuela”.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.