Quando o chanceler alemão, Olaf Scholz, foi questionado numa entrevista sobre a enxurrada de insultos que lhe foram direcionados (e a outros líderes alemães) por Elon Musk, um dos homens mais insultuosos do mundo, a sua resposta foi: “Não alimentem o troll”. “Como social-democratas, estamos acostumados há muito tempo com o facto de que há empreendedores que não apreciam a política social-democrata – e não escondem as suas opiniões”, disse o chanceler alemão.
Há uns dias, e depois de o presidente eleito Donald Trump ter feito o mesmo, Musk manifestou apoio à extrema-direita germânica concentrada no Alternativa para a Alemanha (AfD) – o que mereceu críticas de várias frentes, nomeadamente do líder dos conservadores da CDU, mas não do chanceler. Agora, de forma mais abrangente que apenas em relação à AfD, Scholz decidiu chamar Musk de ‘troll’. Mas não será fácil continuar a desprezar as iniciativas do futuro membro da administração Trump: Musk prometeu que a rede social X, de que é dono, promoverá um debate ao vivo com a candidata da AfD a chanceler, Alice Weidel.
Desde que assumiu a posse do X, Musk tem usado cada vez mais o alcance global da rede social para promover as suas próprias opções políticas. Depois de gastar uns trocos (250 milhões de dólares) para ajudar a garantir o regresso de Donald Trump à Casa Branca, Musk usou a sua influência para apoiar partidos de extrema-direita e anti-sistema em todo o continente europeu, enquanto atacava alguns líderes de centro-esquerda mais proeminentes.
O ‘The Guardian’ recorda que, para além de chamar “tolo” a Scholz, o sul-africano também se intrometeu na política interna do Reino Unido, pedindo que o rei dissolvesse o parlamento, ao mesmo tempo que criticava o governo trabalhista de Starmer e prometia financiar a extrema-direita com 100 milhões de dólares se o partido substituísse Nigel Farage. Musk também manteve conversas com Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, e criticou os juízes que anularam a eleição presidencial da Roménia por suspeitas de interferência russa e apoiou entusiasticamente a primeira-ministra de extrema-direita da Itália, Giorgia Meloni.
Uma Italiana em Mar-a-Lago
Ora, a primeira-ministra italiana fez uma visita rápida ao clube de golfe de Donald Trump na Flórida no passado sábado, durante a qual o presidente eleito dos Estados Unidos elogiou o líder de extrema-direita por “realmente conquistar a Europa”, segundo avança a imprensa norte-americana. A visita de cinco horas acontece poucos dias antes de Meloni receber Joe Biden em Roma, naquela que deve ser a última viagem ao exterior da sua presidência. “Isto é muito emocionante, estou aqui com uma mulher fantástica”, disse Trump, rodeado de personalidades que deverão fazer parte da sua futura administração, como Marco Rubio, indicado para secretário de Estado. O grupo assistiu à estreia de ‘The Eastman Dilemma: Lawfare or Justice’, um documentário sobre os esforços do ex-advogado de Trump, John Eastman, para o manter na órbita do poder após as eleições presidenciais de 2020.
Segundo o ‘The New York Times’, Meloni pressionou Trump sobre o caso de Cecilia Sala, uma jornalista italiana detida no Irão desde dezembro sob acusações de violar a lei islâmica. A Itália está a pressionar o regime de Teerão para que liberte imediatamente a jornalista. A guerra na Ucrânia, o fornecimento de gás e as possíveis novas tarifas norte-americanas sobre produtos da União também terão feito parte da agenda do encontro.
Antes de assumir o poder em outubro de 2022, Meloni era uma apoiante de Trump, elogiando o seu estilo como um modelo para a Itália – ao mesmo tempo que não descurava as relações amistosas com a administração Biden. Observando os entendimentos de Meloni com Trump e com Musk, os analistas consideram que o presidente eleito pode estar a promover a primeira-ministra italiana à qualidade de interlocutora privilegiada na Europa – o que certamente não será do agrado nem de Ursula von der Leyen nem de António Costa, respetivamente presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu. Vale a pena recordar que, no caso de von der Leyen, o seu relacionamento político com Meloni foi fundamental para a constituição do elenco do atual colégio de comissários.
Biden deve chegar a Roma na próxima quinta-feira para uma visita de quatro dias que incluirá um encontro com Meloni e outro com o Papa Francisco.
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