Os sucessivos incidentes que têm ocorrido na central nuclear de Almaraz, em particular nos últimos anos, são um sinal do perigo que representa esta bomba-relógio localizada em território espanhol, mas a pouco mais de cem quilómetros da fronteira com Portugal e que usa as águas do rio Tejo para o seu sistema de refrigeração.

Esta central, a mais antiga de Espanha, já ultrapassou o seu período de vida em 2010, sendo, actualmente, uma estrutura obsoleta e uma ameaça ainda maior ao perigo que, já por si, a indústria nuclear significa.

Recentemente, no mês de Junho, ocorreram mais dois incidentes, segundo informação do Conselho de Segurança Nuclear Espanhol, o mesmo organismo que, há cerca de dois meses, deu um parecer favorável ao prolongamento do funcionamento da central nuclear até 2028.

Torna-se cada vez mais difícil compreender que, apesar da regularidade com que acontecem estes incidentes, o que só vem confirmar que esta central está completamente ultrapassada e é um perigo enorme, o governo espanhol insista na renovação da licença dos reactores e pretenda prorrogar o seu funcionamento quase para o dobro do prazo estipulado na licença inicial, numa vergonhosa cedência aos interesses económicos das empresas eléctricas e desrespeitando a segurança das populações, do território e dos ecossistemas.

O caminho deve passar pelo encerramento das centrais nucleares existentes em Espanha à medida que forem caducando as licenças de exploração, salvaguardando os interesses dos trabalhadores e das populações, e pela transição para um modelo energético renovável e sustentável.

Há muito que o Partido Ecologista Os Verdes reclama, juntamente com outros movimentos e associações, o encerramento da central nuclear de Almaraz, não apenas pela contestação à produção de energia nuclear, mas também por não apresentar condições de segurança.

De facto, desde 1993 foram várias as iniciativas promovidas com vista a alertar para os perigos e a necessidade de negociação com Espanha para o encerramento desta central nuclear, pois constitui um risco para o território e para a população portuguesa.

O Governo português, além de não ter uma posição firme em relação ao encerramento, escudando-se nos resultados de um estudo de impacto ambiental que apenas servirá para legitimar o prolongamento do seu funcionamento, também ainda não deu cumprimento à legislação que prevê o incremento das obrigações de planeamento e programação de medidas de intervenção em situações de emergência radiológica, que teve origem num projecto de lei dos Verdes, continuando as populações abandonadas à sua sorte, pois Portugal não está devidamente preparado para responder a um cenário de acidente nuclear.

A luta pelo encerramento e desmantelamento de centrais nucleares no mundo é um imperativo e essa é a única forma de garantir que nenhum acidente terá lugar. Em Portugal, mantém-se viva a exigência de encerramento da central nuclear de Almaraz, sob o justo lema “Fechar Almaraz e todas as outras”.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.