Em Portugal, tudo o que tenha a ver com lobbies, enfim… grupos de interesse ou grupos de pressão, como se preferir, é visto como algo mau. Estes são formalmente proibidos e desprezados, ou, para ser mais precisa, a regulamentação sobre lobbying é inexistente. Claro que em Bruxelas é diferente, e aí, os mesmos (ou praticamente os mesmos) actores com grande felicidade se adaptam às circunstâncias, i.e. “usam” e “são usados” por grandes grupos de interesse.
No fundo somos puritanos, já que sindicatos, associações empresariais, grupos organizados contra a localização de um novo aeroporto em certo local ou associações contra e a favor certos aspectos fracturantes na nossa sociedade são efectivamente lobbies.
A boa maneira de fazermos estas coisas, claro, é desinstitucionalizar. Ou seja, tornar estes “jogos de influência” parte integrante de momentos sociais, entre os quais almoços com amigos, família, conhecidos ou colegas, como forma de disseminar a informação que nos agrada ou não pela via informal. Mas quem estuda a política e o tenta fazer de maneira científica, sabe que as desvantagens da existência de lobbies formalmente operantes não são assim tão claras.
Há estudos que demonstram, por exemplo, que grupos de pressão podem facultar informação de interesse aos legisladores – Austen-Smith, Wright, Hall e Deardooff assim o atestam, para referir apenas alguns autores. Não é, também, assim tão claro que quando alguns políticos se distanciam de alguns grupos por uma questão de reputação, por exemplo, não o façam mais por calculismo para manter uma “boa imagem” e menos para servir o interesse dos seus eleitores.
Não sei ao certo se por medos enraizados na sociedade, onde se escondem as ligações entre interesses, afinal tivemos algumas décadas de fascismo onde os aspectos colectivos eram pouco apreciados, ou se por “estilo” das relações sociais, até no que ao Estado diz respeito, mas há um aspecto que não parece interessar-nos enquanto sociedade, que é clarificar quem pode influenciar ou não certas decisões.
No entanto, pensarmos que as decisões políticas são tomadas numa espécie de vazio é no mínimo ingenuidade a roçar a falta de pensamento. Infelizmente, este nosso estilo português costuma ser “baralhar e dar de novo”, e não deixa de ser curioso que a mão que dá as cartas seja sempre a mesma.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.