Os dias passam e continua incerta a estratégia do Partido Social Democrata (PSD) para a capital. E as duas opções em cima da mesa – o partido avançar com um candidato próprio ou apoiar Assunção Cristas, do CDS-PP – estão a agravar as divergências internas no partido. O vice-presidente da concelhia lisboeta, Rodrigo Gonçalves, defende que não apresentar candidato próprio a Lisboa é “suicídio” e também desrespeitar a cidade e os eleitores.
Este social-democrata tem defendido publicamente a necessidade de apresentar uma candidatura própria. Em declarações ao Jornal Económico, considera que o conflito em torno da Câmara Municipal de Lisboa não causará cisões suficientemente profundas para levar a eleições antecipadas para a liderança do partido, mas reconhece “que há oportunistas” que vão querer aproveitar-se desta fragilidade para atacar a liderança de Passos Coelho.
Nas mãos de Passos
O propósito da concelhia, ao contestar a potencial coligação com o CDS, não é pôr em causa a liderança de Passos Coelho. Rodrigo Gonçalves recusa fazer leituras nacionais no que diz respeito à estrutura do partido – fazê-lo é “dar armas aos inimigos do Passos Coelho”.
O dirigente reconhece, contudo, que é nas mãos de Passos Coelho que está a decisão para pôr fim a este impasse. A concelhia vai reunir no início de janeiro e, posteriormente, será recebida pelo líder do partido, em data ainda desconhecida. A posição a apresentar nesse encontro é já pública, pelo que as reuniões fazem parte de um conjunto convencional de formalidades. O dirigente local refere que “não são só da concelhia” os que não querem que o PSD apoie o CDS e, ao que o Jornal Económico apurou, esta opção é também a dos principais dirigentes.
Uma potencial coligação com o CDS-PP, que Rodrigo Gonçalves descreve como “contranatura”, seria sinal que o PSD estaria a “menorizar” a importância da capital. Lembra, a título exemplificativo, a demissão de António Guterres, então primeiro-ministro, em 2001, após a surpreendente vitória de Santana Lopes na Câmara Municipal de Lisboa.
O dirigente dá conta do desacordo entre a concelhia, por um lado, e a distrital e a coordenação autárquica, assegurada por Carlos Carreiras, por outro. “Temos tido dificuldade em refazer o partido e não podemos permitir que se descredibilize”, frisou, lembrando que “guerras e divisões internas” afetam não só o partido, mas a cidade de Lisboa.
Para Rodrigo Gonçalves, Assunção Cristas terá avançado com “a ideia errada de que teria apoio das estruturas” lisboetas do PSD, sem que o mesmo tenha sido validado com estas estruturas: “Mas não é o CDS o culpado desta situação, é a estratégia do partido, não critico. O que critico é a submissão do meu partido ao CDS.”
O vice-presidente da concelhia do PSD em Lisboa desafiou Passos Coelho a candidatar-se, mas acredita que o repto não será aceite. E não sendo Passos Coelho o candidato, “tem que ser alguém ao nível dele”. A falta de alternativas a Santana Lopes, que recusou concorrer novamente a Lisboa, tem sido apontada como uma das causas do arrastamento deste impasse. Nomes como Maria Luís Albuquerque, José Eduardo Martins (coordenador do programa eleitoral para Lisboa) e Luís Montenegro podem estar em cima da mesa, segundo fontes ligadas ao partido. Contactado pelo Jornal Económico, o líder parlamentar negou esta hipótese: “Não é verdade”.
Rodrigo Gonçalves, por seu turno, prefere não falar em nomes, mas defende que há alternativas e que dizer o contrário só interessa “à distrital e à coordenação autárquica”, com quem tem divergências políticas. O Jornal Económico tentou contactar a coordenação autárquica e a distrital, mas sem sucesso.
Morais Sarmento de fora
Os nomes que têm vindo a público como possíveis candidatos têm afastado esse cenário, por diferentes motivos. Morais Sarmento, antigo ministro de Durão Barroso, foi um deles: “Se [me perguntassem o que] me motivaria mais, disputar as eleições para a Câmara de Lisboa ou para a liderança do partido, diria ‘eleições para a Câmara de Lisboa’. Sem nenhuma hesitação. Porque é uma cidade onde vivo, são os problemas que vivemos todos os dias, onde achamos que podemos fazer diferente. Agora, é difícil e o PSD tornou-o praticamente impossível”, disse, à Renascença.
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