A Indústria 4.0 não é um conceito futurista, é já hoje uma realidade que começa a ter efeitos nos indicadores operacionais das empresas. Na base desta revolução está a conectividade digital que advém do uso massivo da Internet. Os produtos, as máquinas e as pessoas estão ligados em rede, cada vez em maior número, através de plataformas digitais que disponibilizam informação em tempo real. Nas fábricas, como noutras áreas da nossa vida, os dados, a informação, e o conhecimento suportados em papel passam a ser secundários, sendo dada primazia absoluta aos suportes digitais.
Vários conceitos e tecnologias habitam as iniciativas relacionadas com a Indústria 4.0: a interoperabilidade entre máquinas, M2M (Machine to Machine); a IoT (Internet of Things) onde as “coisas” coexistem simultaneamente no mundo real e no mundo digital; os repositórios com massivas quantidades de dados (Big Data); a análise de dados e a tomada de decisões em tempo-real no mundo digital com atrasos de frações de segundo relativamente aos eventos no mundo físico; a Inteligência Artificial, seja através do uso de Chatbots na interação com humanos, seja através de algoritmos de Machine Learning que permitem que os sistemas de software vão aprendendo ao longo do tempo, ou seja através de algoritmos que tentam descobrir relações e padrões desconhecidos nas enormes quantidades de dados de repositórios Big Data.
Estando todos os produtos e máquinas conectados digitalmente através dos nossos telemóveis ou computadores, podemos operar remotamente todos os eletrodomésticos em nossas casas, ligar o nosso carro, regular o caudal de rega das nossas plantas, falar com robots (já existentes no mercado) que obedecem às nossas ordens mas que também nos sugerem músicas ou programas de televisão porque conhecem as nossas preferências, e tudo o que mais possamos imaginar. Em ambientes de fábricas, os sensores, computadores, células de produção, sistemas de planeamento, trocam informações entre si, de forma autónoma, tomando decisões de produção, custo, contingência e segurança através de algoritmos de Inteligência Artificial. A partir daqui, acede-se a uma nova realidade produtiva: tudo estará ligado para que as melhores decisões de produção, custo e segurança sejam tomadas, em tempo real.
Recentemente, o Governo anunciou 60 medidas que colocaram este tema na ordem do dia, e a Bosch é uma das seis empresas que integra o comité estratégico do projeto, participando ainda no grupo de trabalho responsável pela área de “Automóvel e Moldes”. Depois de definida a estratégia, o objetivo desta task force é colocar Portugal na linha da frente desta quarta revolução industrial, que assenta na digitalização, sensorização e automação da economia.
A Indústria 4.0 não é, portanto, uma corrente ou uma moda, mas sim uma evolução. Uma evolução dos sistemas produtivos industriais que garante benefícios como a redução de custos, de energia, o aumento da segurança e da qualidade, e a melhoria da eficiência dos processos. Mas, para que as soluções sejam implementadas por grandes empresas e PMEs, será necessária a definição de standards que suportem a interoperabilidade das máquinas, e é nisso que alguns grupos já estão a trabalhar a nível mundial.
Especificamente em Portugal, os fatores críticos para que se alcance o sucesso pretendido neste desafio são a abertura das empresas à inovação, a aposta na qualificação dos recursos humanos para as novas tecnologias e processos, e a capitalização das empresas para que consigam implementar as alterações necessárias.
A Indústria 4.0 é já uma realidade e está a mudar a forma como lidamos com a produção. Cabe-nos aproveitar os seus benefícios para a competitividade e o sucesso do negócio.