Era uma questão de tempo até acontecer em Portugal. O crescimento da comunidade de imigrantes está a ser usado como arma de arremesso por partidos populistas que apelam à discriminação e controlo mais apertado da imigração.
Questionam o contributo desses migrantes com desinformação que já foi usada em abundância pela extrema-direita em outros países. A saber, a ideia de que os imigrantes estão a roubar os trabalhos de cidadãos nacionais, a ideia de que estão a viver de prestações sociais ou que trazem para Portugal costumes e credos ameaçadores.
Em plena campanha eleitoral, o ataque aos direitos dos imigrantes nunca foi tão cerrado, face ao discurso de diabolização por parte do Chega que inunda as redes sociais (e imprensa) como um tsunami. Basta ver como, nas últimas semanas, foi intenso o debate em torno do Martim Moniz, um dos bairros multiculturais mais populares de Lisboa, onde convivem 89 nacionalidades.
Na minha bolha, este discurso anti-imigração é inexistente e fortemente criticado. No entanto, a minha sensibilidade enquanto filha de imigrantes sabe que a xenofobia e a discriminação estão a aumentar, como resultado deste discurso que, todos os dias, invade, como um cancro, as redes sociais e as casas dos portugueses.
As comunidades mais vulneráveis são sempre as primeiras a tornar-se um alvo quando a população residente é fustigada por um ambiente económico adverso e pelo aumento do custo de vida. O discurso anti-imigração do partido de André Ventura tornou-se dominante na comunicação social, pondo os restantes partidos e analistas políticos na defensiva. Estamos todos a jogar na defensiva quando temos de ser pedagógicos em relação ao contributo dos imigrantes e à contextualização de declarações falsas.
Enquanto atacam direitos fundamentais, os que propagam a desinformação do Chega querem distrair-nos da realidade: um partido que é financiado pelos grandes empresários e homens de negócios que minam constantemente o Estado Social. Sabemos que é uma elite económica cujos negócios também dependem de trabalho imigrante e, por isso, a sua hipocrisia não tem limites.
Provavelmente nem acreditam nos chavões que disseminam todos os dias entre uma parte da população que está convencida que são os imigrantes que irão retirar aos portugueses o direito a uma vida melhor.
Nunca é demais lembrar, em campanha eleitoral, o efeito devastador desta rede de mentiras e o facto de influenciar o voto. A nossa responsabilidade em desconstruir o discurso anti-imigração, repleto de mentiras, nunca foi tão grande como hoje.