… contudo, em Portugal houve, pelo menos, um banco.
(Tenho uma dívida pessoal com Ana Gomes, pelo arrimo que deu a familiares meus após a morte da minha mãe. Portugal tem uma dívida maior para com ela, a qual só agora começa a reconhecer. Foi a primeira a dizer o que hoje todos repetem, muitos após terem prestado loas a Isabel dos Santos. E fê-lo quase sozinha durante anos. Podemos, como me sucede, discordar dela a espaços. O que não podemos é negar a sua coragem e, neste país, esse valor é escasso.)
Já o escrevi aqui há uns meses e repito-o: qualquer um de nós teria feito o negócio da sua vida se tivesse comprado o então banco BPN, hoje EuroBic, nas condições em que foi vendido. Por 40 milhões de euros, para além de um acervo de imóveis que deverá valer, por si só, mais do que isso, o adquirente pôde escolher os activos que queria e os que, não querendo, atirava para o Estado, assim como seleccionar os trabalhadores que pretendeu despedir, cujas compensações foram pagas, uma vez mais a nossas expensas.
Dito isto, o que me espanta não é o que hoje se sabe sobre Isabel dos Santos, pessoa sobre a qual nunca tive grandes ilusões, desde logo por não acreditar em carreiras executivas que galopam a partir de discotecas ou clubes de praia. Para mim, a “princesa” esteve sempre nua, embora vestida pelas melhores marcas.
Ao invés, o que é extraordinário é que, até agora, ninguém tenha achado estranho que o vendedor, isto é, Teixeira dos Santos, tenha depois assumido as funções de administrador do mesmo banco que alienou. Sim, o mesmo que, há parcas semanas atrás, ameaçava Ana Gomes com processos e que, hoje, se procura ver livre de Isabel dos Santos a todo o custo, assumiu sequencialmente as funções de ministro e de administrador do banco que o ministro vendeu, sem que alguém tivesse dito fosse o que fosse.
Eventualmente pelo início da austeridade se ter dado pela sua pena, Teixeira dos Santos também não vislumbrou qualquer problema quando a conta bancária da Sonangol se viu reduzida a cerca de 300 euros, fruto das transferências que agora se conhecem. Teixeira dos Santos é, neste processo, um pouco como Deus: está em toda a parte e parece quase intocável. Contudo, pouco ou nada se tem falado dele, assim como de outros personagens que assumiram idênticas funções, como seja Mira Amaral.
Ninguém viu nada mas, neste momento, todos criticam, incluindo o Banco de Portugal, indo, agora e só agora, constituir uma tão portuguesa comissão que nada impedirá porque tudo já foi feito. É uma pena que seja tão lesto no que se reporta aos pequenos devedores e deixe escapar os monstros. Querem que acreditemos que são só inertes mas já é incompetência a mais.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.