Uma das características que, na minha opinião, distingue uma bolha especulativa é que normalmente é alimentada por muitos e identificada por muito poucos. Os muitos são normalmente compostos por investidores de toda a gama de sofisticação, desde os particulares que querem participar simplesmente porque têm visto os preços a subir, até aos institucionais que justificam o investimento com os mais complexos quadros analíticos. Os muitos agem em rebanho, enquanto os muito poucos sofrem o peso psicológico de ter uma opinião contrária à maioria e de não participar na escalada dos preços.

Ora, não é a isso que temos vindo a assistir no mercado imobiliário nos centros urbanos de Portugal. O que se vê é uma população (naturalmente) alarmada com a subida dos preços das casas, uma classe política a usar o tema da “bolha” para campanha política, e uma pequena fatia de investidores – institucionais e particulares, maioritariamente estrangeiros – a investir e a alimentar a subida dos preços. Os muitos identificam e queixam-se de uma “bolha”, enquanto os poucos investem.

Obviamente que não é apenas esta análise da psicologia de mercado que sustenta esta opinião. A verdade é que os factores fundamentais por trás da escalada dos preços são relativamente sólidos. No espaço de poucos anos, Portugal deixou de ser um dos elos mais fracos da zona euro para tornar-se num dos destinos de turismo e investimento estrangeiro mais atractivos da região. Sendo que os factores que potenciaram esta atractividade já estão presentes há algum tempo. O bom clima, a riqueza geográfica e a autenticidade do nosso país; a mão-de-obra qualificada e relativamente barata, aliada à proximidade do mercado europeu. Mas estavam latentes devido à instabilidade financeira e política que o país atravessou.

Para além destes factores, o sector da construção também demorou a responder à expansão da procura. Talvez por também ele estar desgastado financeiramente, só mais recentemente é que começámos a ver obras de construção/requalificação de maior dimensão no sector imobiliário. O atraso da expansão da oferta também terá potenciado a subida dos preços até agora.

Não quer isto dizer que as queixas dos cidadãos e dos políticos não sejam justificadas. Os preços nos grandes centros urbanos estão evidentemente demasiado altos para o cidadão comum. Mas essa é a realidade persistente na maior parte das capitais turísticas ou de negócios em todo o mundo, e é importante que quem desenha a política de habitação esteja consciente disso, para que estas não prejudiquem o estatuto que o nosso país atingiu.

Os preços vão provavelmente manter-se altos nos centros de Lisboa e do Porto no futuro próximo, principalmente se as taxas de juro se mantiverem tão baixas. Isso certamente penaliza aqueles que pretendem habitar os centros citadinos, mas também ajuda muito a economia portuguesa. Ajuda essa que continua a ser demasiado preciosa para desdenhar.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.