É habitual pensarmos no Natal, mesmo quando não somos católicos, como uma época de reconciliação e de afirmação de valores que são esquecidos no momento seguinte. Neste, mantenho os olhos postos nos estivadores, cuja lição de luta e de solidariedade não mais pode ser esquecida. Numa época em que a comunicação nunca foi tão intensa mas em que a solidão muitas vezes se serve com cotoveladas em centros comerciais, sabermos que existem pessoas que se mobilizam por causas, sejam elas quais forem, é conservar alguma esperança na humanidade.
Por outro lado, no último texto de 2018, é inevitável olhar para trás e, com algumas ressalvas, agradecer o que a vida (me) deu. Foi um ano cheio, pese embora não necessariamente em cheio, com vitórias e derrotas, como todos os outros. Diz-se habitualmente que o que conta não é o destino final mas o percurso. O meu tem sido feito com amigos e sem eles nunca teria conseguido saborear o correr dos dias. Obrigada por estarem aí, mesmo quando estou ausente.
Fui, como se sabe, apoiante de uma lista que acabou por ganhar as eleições para a Ordem dos Advogados e, do mesmo modo, terei sido das primeiras a perceber o profundo erro em que incorrera. Há traços de carácter que se reconhecem muito mais nas vitórias do que nas derrotas porque, mais difícil do que saber perder, é ganhar com dignidade.
Ironicamente, olho para a lista inicial e para a actual composição do Conselho Geral e verifico que não há grandes coincidências. Nenhuma explicação foi dada aos advogados a este título, como se fosse normal as pessoas votarem numas pessoas e, de repente, irem surgindo outras, na melhor versão do alpinismo social. A isto some-se a total inércia da Ordem em matérias fundamentais, como sejam os actos próprios ou o acesso aos autos, e teríamos a tempestade perfeita para um final sem glória de um mandato que se iniciou como prometedor.
Para quem, como eu, se afastou da Ordem dos Advogados, a sensação que fica é de um total vazio, pontuado por momentos confrangedores, cuja verificação apenas revela uma total falta de bom senso.
Não obstante, a um ano de terminar o mandato, o Senhor Bastonário da Ordem dos Advogados escolheu a época natalícia para vir anunciar, com pompa e circunstância, a sua recandidatura. Não o fez, sequer, em sede própria ou nos bastonatos de proximidade que resolveu imitar, escolhendo um meio de comunicação social para nos dizer que, doravante, entrará em campanha mas, à semelhança do que sucedeu em mandatos anteriores, esta (também) é paga por nós.
O que antes era criticado, em especial pelo Senhor Bastonário quando estava na oposição, hoje não apenas é praticado como publicitado. Não há, de facto, coincidências. Apenas, quando muito, repetições.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.