A Grã-Bretanha é a sexta maior economia do mundo. Imprime a sua própria moeda, a libra esterlina. É senhora de um mercado interno de mais de 67 milhões de pessoas. O inglês, o seu idioma, é a língua franca por todos usada. Londres, a maior praça financeira mundial, é a sua capital. Londres é também o maior mercado de arte do mundo. O custo por metro quadrado é o mais elevado da Europa e um dos mais altos mundo.

As marcas de automóvel Rolls-Royce, Bentley, Jaguar, Aston Martin, Land Rover, Mini e outras mais excêntricas, como a Morgan, a Lotus ou a Caterham, são símbolo de luxo e personalidade. Os seus proprietários germânicos não ousam renegar o seu ADN, pelo contrário tudo fazendo para que as marcas se mantenham totalmente britânicas.

A Grã-Bretanha é um dos pilares da democracia mundial. Combateu guerras em seu nome, nelas se empenhando muito antes de outros mais poderosos. Pelo seu passado colonial, um império que não conhecia pôr do sol, formatou o mundo moderno.

Churchill é por muitos considerado como o exemplo último da capacidade de galvanização de um povo, levando-o além dos próprios limites, lutando só por princípios que o arredariam do poder logo após declarar a vitória sobre o nazismo. Ganhou uma guerra para perder umas eleições. Não ousou contestá-las afirmando mesmo que, por esse princípio, tinha travado a guerra.

A maioria dos estudiosos de Relações Internacionais coloca sempre a Grã-Bretanha como um dos três países de maior soft power no mundo. Quando foi deposto, o Rei Farouk do Egito declarou que, no futuro, haveria apenas cinco rainhas: as quatro do baralho de cartas e a Rainha de Inglaterra.

A música pop e rock, dos Beatles aos Rolling Stones, os filmes do James Bond e os seus icónicos atores, os livros de John Le Carré, os mistérios de Agatha Christie, Shakespeare, Sir Laurence Olivier, o BBC World Service, voz da liberdade, o Parlamento e a sua visceral retórica, um misto de pompa e taberna, enfim, as memórias que todos partilhamos e a que, de algum modo, almejamos, a estoica Grã-Bretanha que a todos influenciou e influencia não é agora capaz de, simplesmente, deixar uma União que, no seu caso, pouco mais era que aduaneira…

Aqui chegados, saídos que estamos de uma das mais graves crises que o país já viveu, convém refletir se realmente teríamos tido a capacidade para, naquela altura, não baixar a cabeça e não aceitar a fúria punitiva da UE, do BCE e do FMI, conforme fizemos. Se era verdade que havia outras políticas alternativas, como de algum modo se veio a comprovar, não é menos verdade que nos teria sido impossível – sem soçobrar no marasmo, na miséria e na desordem – abandonar o euro ou sair da UE.

Tocou aos britânicos, por vaidade e baixa política de um dos seus primeiros-ministros, David Cameron, comprovar na pele que não há História, dimensão, poder ou voluntarismo que nos valham quando se quer virar costas ao Leviatão em que a Europa se transformou, um monstro que tudo consome, voraz a sugar o poder e a quem basta despachar um burocrata francês, Michel Barnier, para bater o pé a uma das mais icónicas nações do mundo, ao seu mítico Parlamento e à sua Rainha, ainda soberana de 16 países, entre os quais o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia.

Por muito que nos custe, não há fuga.