Ainda que o nosso conhecimento sobre a doença do novo coronavírus se mantenha num estádio muito diminuto, quando comparado com a primeira vaga é significativamente superior. Em março, quando em Portugal estávamos a ser impactados pela desgraça que percorria a geografia de oriente para ocidente, o nosso conhecimento era praticamente nulo, e a escassez de informação cingia-se aos relatos vindos de um mercado com venda animais selvagens para alimentação em Wuhan, na China. A doença era, primeiro, uma espécie de gripe, que poderia derivar numa forte pneumonia, mas com uma taxa de letalidade muito baixa. Depois, à medida que nos chegavam os relatos vindos de Itália, e depois de Espanha, percebemos que a coisa era grave, se negligenciada. Vários foram os mitos: usar ou não usar máscara, usar ou não usar paracetamol, para não falar das incursões mais ou menos espetaculares do uso de hidroxicloroquina por parte de personalidades de grande responsabilidade na conduta da ordem mundial.

Chegados a este momento, há vários princípios que temos presentes. Primeiro, a Covid19 não tem fármaco que conduza à cura. Depois, o vírus é transmitido por via aérea pelo que a probabilidade de propagação é tanto maior quanto mais juntos estivermos sem qualquer tipo de proteção. Por outro lado, quanto mais levarmos as mãos à cara, e por esse gesto, às vias respiratórias, a probabilidade de infeção será maior. Também sabemos que esta doença não afeta só pessoas de faixas etárias mais altas, e que, em algumas geografias, se está a verificar um aumento significativo de incidência nos jovens, ainda que com taxas de letalidade inferiores. E também sabemos as consequências da propagação da doença nas atividades económicas, com os serviços a serem afetados e com o Turismo e atividades conexas à cabeça. Ainda sem os números dos meses mais significativos da atividade, as estatísticas apontam para uma quebra homóloga do saldo da balança de Turismo e Viagens de 88,4% em junho último. Com o corredor aéreo fechado para o maior originador de procura turística, os números do verão não terão recuperado significativamente. Também o arrastamento do teletrabalho por consequência do confinamento de março-abril originou impactos significativos nas atividades do comércio e restauração. Basta pensar em quantos pequenos-almoços, almoços e lanches deixam de ser servidos diariamente pela ausência de deslocação física para os locais de trabalho.

Afirmar-se agora que se poderia ter evitado a queda da atividade económica no lockdown é pura demagogia. O conhecimento de hoje não é o conhecimento de há seis meses. O seu propósito foi o de prevenir. Isso teve efeitos significativos cujo resultado está longe de estar apurado. Mas há uma certeza: a prioridade foi defender as pessoas e evitar a rotura dos serviços de saúde.

Agora, já não há qualquer margem para novo confinamento. O que quer dizer que não há margem para a cidadania falhar. Com mais conhecimento de todos, competirá a todos viver na normalidade possível tomando as devidas precauções sanitárias, mitigando os riscos inerentes a lidar com uma doença que ainda não tem cura por via de fármacos, nem vacina que permita uma prevenção eficaz. E compete a todos proteger os mais vulneráveis. Porque estamos todos no mesmo barco. Um deslize deita tudo a perder e põe em causa a sustentabilidade do país. Nunca o sentido da proteção social foi tão necessário, e esse começa por nós e pelos que nos são mais próximos.