“Não há a menor dúvida quanto ao melhor tempo para a humanidade; a resposta é: hoje até que amanhã o supere.”

Steven Pinker*

 

Nos nossos dias, as más notícias propagam-se literalmente à velocidade da luz, pela fibra ótica que une o nosso Facebook ao dos dois mil milhões de pessoas que nos acompanham nessa rede. As boas notícias não são notícia. Acreditamos que o mundo nunca foi tão inseguro. Que os conflitos armados aumentam. Que a discriminação de género aumenta. Que a pobreza cresce assim como a desigualdade. Que a democracia entrou em regressão.

Ora vejamos. Nunca o mundo viveu uma era tão pacífica quanto a presente. No dia em que vos escrevo, não foi publicada uma única notícia de mortes em combate. Em todo o século XXI morreram até ao momento três milhões de pessoas em conflitos armados. Embora projeções nesta matéria sejam, obviamente, arriscadas, tenhamos presente que no século XX morreram mais de 123 milhões de pessoas em atos de guerra e nos seus primeiros 19 anos, só a Primeira Guerra Mundial e outros conflitos tinham já vitimado mais de 40 milhões de pessoas – a comparar com os três milhões atuais.

Em todo o mundo, com a singular exceção da América Latina, a taxa de homicídio está em queda, sendo hoje a mais baixa desde que há registo.  Na Europa, ela está em baixa contínua desde o início do século. Hoje, a média de homicídios é de 2 por cada 100.000 habitantes na Europa Ocidental quando se situava em cerca de 3,5 no final do século XX.

Em matéria de igualdade de género, o mundo continua a evoluir positivamente na maioria dos indicadores. Cada vez mais mulheres têm acesso à educação e, nos países da OCDE, são hoje a maioria no terceiro ciclo de ensino (universidade). Continuam a existir disparidades salariais e discriminações injustificadas no acesso a algumas profissões. Mas, pouco a pouco, as barreiras vão desaparecendo e, embora os pessimistas sublinhem que serão necessárias décadas para atingir a paridade, a verdade é que a História não evolui de forma linear. Episódios inesperados levam a alterações qualitativas repentinas, com foi o caso do acesso ao voto, por exemplo. E há mesmo profissões inteiras dominadas por mulheres, a medicina e a magistratura e o ensino.

Em termos de população mundial, a pobreza absoluta (viver com menos de 1,9 US$ por dia) caiu de 44% em 1980 para menos de 10% na actualidade. Nunca houve tão poucos pobres no mundo. O rendimento está a aumentar em todo o mundo e cresce mais rapidamente nos países mais pobres. A China e a Índia, que constituem 35% da população mundial, veem as suas economias crescer a um ritmo superior a 6/7%, aproximando os seus milhares de milhões de habitantes dos nossos padrões de vida. Até mesmo a esperança de vida, uns meros 40 anos em 1850 na Europa, se aproxima a galope dos 80 anos em 2020.

Temos que resolver as alterações climáticas? Temos.

Temos que resolver a violência de género? Temos.

Temos que defender a democracia e a liberdade? Temos.

E também temos uma certeza: nunca, até hoje, estivemos tão preparados para o fazer.

 

*Recomendo a leitura de “Enlightenment Now” de Steven Pinker sobre os triunfos do século XXI.