Acabo de ter a experiência de deambular num centro comercial e perceber que o convite ao consumismo desenfreado é evidente, como se o mundo, afinal, estivesse a precisar de compras e mais compras mais ou menos desnecessárias, de gastos energéticos totalmente inapropriados, de cenários que em tudo apelam à futilidade e nada incitam à celebração do encontro familiar, entre amigos, ou, por outro lado, deixam de fora os já de si abandonados: idosos, crianças institucionalizadas, famílias desavindas, pessoas doentes ou cidadãos em banca rota.

Parece que nos querem vender a ideia de que está tudo uma maravilha à nossa volta: a pandemia não existe (?), a guerra na Ucrânia (e noutras paragens) está distante, o custo de vida não custa coisa alguma, o planeta não está a esgotar-se e as gerações que agora nascem têm um habitat bem tratado. E, não, não têm: estão a encontrá-lo em avançadíssimo estado de degradação, as pessoas são cada vez mais autómatas quase máquinas desprovidas de emoções, a guerra normalizou-se e a pandemia só existe quando é uma desculpa para abandonar idosos em lares ou à sua sorte solitária. [Diz-me como tratas os idosos e dir-te-ei quem és, penso-o tantas vezes].

Por tudo isto, não, não me apetece Natal. Apetece-me silêncio, apetece-me não ver luzinhas mais ou menos pirosas a criarem ruído visual em tudo quanto é terra, apetecem-me abraços, apetece-me um olhar intenso e emocionado, apetece-me saudade, apetece-me generosidade, apetece-me harmonia, apetece-me paz, apetece-me amor, apetece-me viver – e não só sobreviver –, apetece-me sonhar, apetece-me apetecer.

Agora que somos oito mil milhões de homo sapiens sapiens a pisar e a estragar este planeta – que grita por socorro diariamente – porque diabo estaremos nós contentinhos com milhares e milhares de luzes kitsch acesas em cada cantinho de cada terrinha? Se estamos a contar o dinheiro para pagar as contas estupidamente mais elevadas, porque carga de água (poluída, de certeza) temos de levar com quilos de publicidade a exigir “gastem, gastem, ou não é Natal!”?

É que o seu familiar, amigo ou até colega de trabalho não vai passar a gostar mais de si – ou admirá-lo – porque se enterrou em gastos, dívidas e parvoíces para lhe comprar uma tonteira que para pouco ou nada serve. Provavelmente, ficará muito mais surpreendido se receber um abraço e uma palavra de agradecimento e/ou conforto, não? Digo-o por experiência própria. Ou, porque não, oferecer algo que tem em casa, pouco ou nada lá serve, mas pode ser útil a outra pessoa/família?

Sei que é anticlímax o que estou a sugerir, mas estamos alegremente a destruir-nos – a nós e ao planeta Terra – e continuamos a fingir que está “tudo bem”.

Neste Natal, em vez de meias dê o todo: poupe a terra, poupe as suas (poucas ou muitas) poupanças e, acima de tudo, poupe-se/nos.

Não, não me apetece este Natal. Este Natal está poluído, está triste, está em guerra, está individualista, está a marimbar-se para o outro.

Não, não me apetece este Natal. Talvez o próximo. Talvez. Quem sabe.