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“Não posso. Seria uma cobardia”. Ministra da Saúde confessa cansaço mas recusa sair do Governo

“Neste momento, não posso. Seria uma cobardia e não podemos desistir quando as pessoas precisam de nós”, disse a ministra no programa de Cristina Ferreira. Ainda assim, Marta Temido admitiu já ter sentido vontade de o fazer. “Já tive vontade, já tive momentos em que achei que não podia mais. Mas na verdade, estamos todos assim, não é?”.
  • Marta Temido, ministra da Saúde
29 Setembro 2020, 15h05

A ministra da Saúde, Marta Temido, regressou ao programa de Cristina Ferreira, desta vez na TVI, para uma conversa do foro pessoal mas que também serviu para abordar o trabalho que desenvolvido pelo Ministério da Saúde ao longo de sete meses, com a ministra a admitir sentir-se cansada e a garantir que desistir do cargo que ocupa “seria uma cobardia” face ao momento atual do país.

Marta Temido sustentou que não pode desistir do cargo com que se comprometeu em outubro de 2018. “Não posso. Seria uma cobardia”, disse a Cristina Ferreira, admitindo que está “disponível para me ir embora quando os portugueses assim o entenderem”.

“Neste momento, não posso. Seria uma cobardia e não podemos desistir quando as pessoas precisam de nós”, disse a ministra no programa. Ainda assim, Marta Temido admitiu já ter sentido vontade de o fazer. “Já tive vontade, já tive momentos em que achei que não podia mais. Mas na verdade, estamos todos assim, não é?”, deixando a questão em aberto após sete meses de luta contra o vírus.

Num elogio, a apresentadora da TVI apontou que a ministra da Saúde “nos ajudou” mas que também “houve momentos em que olhei para si e para a doutora Graça Freitas e se via que estavam visivelmente cansadas”, algo que a ministra admite ser verdade. “Estou muito cansada, mas quem não está?”, assumindo que desde o passado mês de março “um dia parece ser uma semana”.

“Às vezes, penso nos nossos jovens e nos sonhos e projetos que tiveram de adiar e suspender”, apontou, exemplificando que muitas festas de final de curso não se realizaram mas que também não se pode regressar ao final do curso quando as vidas suspensas regressarem à normalidade.

Questionada por Cristina Ferreira sobre o facto da irmã da ministra ser uma profissional de saúde, Marta Temido disse que a irmã é médica e que, por ser a responsável máxima pela saúde em Portugal, lhe faz “muitas queixas” sobre os estados dos hospitais e centros de saúde. “Levo-a muito a sério”, disse a ministra, sustentando que a sua irmã lhe diz muitas vezes “o que é preciso melhorar, o que disse de errado”.

Abordando a batalha dos profissionais de saúde e a falta de acompanhamento que muitos reclamam, Marta Temido reconhece a dificuldade de médicos e enfermeiros do Serviço Nacional de Saúde, sendo que os aspetos mencionados são verdadeiros. “Temos um país com recursos limitados e nos últimos meses passámos muitas dificuldades”, apontou.

“Ainda não compensámos os profissionais por isso, mas estamos a trabalhar nessa situação, é um dos desafios deste momento”, esclareceu, sustentando que os profissionais de saúde que estiveram na linha da frente serão recompensados, mas que esse tempo ainda não é agora.

Vacina e o futuro de Portugal

Apesar de o combate já ser longo, a ministra admitiu um crescimento da doença nos próximos tempos. “Já estamos a assistir a isso”, disse, tanto em Portugal, onde os números tem aumentado no último mês, mas também nos outros países, onde os valores diários já estão a crescer há alguns meses.

“Já me perguntaram o que fizemos de errado, mas nós não fizemos nada de errado. É o contacto, porque nesta doença o contacto é um meio de transmissão”, disse a ministra a Cristina Ferreira. “Sempre que procuramos [Governo] aliviar as medidas, temos um crescimento e temos de voltar a cumprir os comportamentos individuais”, como usar máscara e lavar e desinfetar frequentemente as mãos.

“Por muitas ações que o Governo possa tomar, este é um caso em que a melhor defesa está nas mãos de cada um de nós. Precisamos de nos afastar até que nos possamos abraçar outra vez”, defendeu.

Ainda face ao aumento de casos, Marta Temido garante que “tornamo-nos melhores a combater o vírus, porque aprendemos com a experiência. No início era tudo novo”, disse no programa, apontando que “a resposta médica aprendeu que existem medicamentos que podem ser uma ajuda, que outras formas de ventilação podem ser melhores”.

“São seis meses de aprendizagem e isso deixa-nos melhor preparados”, admitiu.

Perante os próximos meses, onde gripe normal e Covid-19 se irão misturar, Marta Temido garantiu que estes “serão difíceis e exigentes” mas que esta é “uma responsabilidade que os profissionais têm bem enraizada” e que este é mais um “desafio que têm de enfrentar”.

Ainda assim, a ministra admite “boas expectativas que em 2021 tenhamos uma vacina que todos os europeus estão a desenvolver” para combater o novo coronavírus, sendo que estas “só serão disponibilizadas se forem realmente seguras para os cidadãos”.

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