O chefe do governo regional da Gronelândia afirmou hoje que o território não está à venda nem quer fazer parte dos Estados Unidos, em resposta ao interesse na ilha dinamarquesa reiterado pelo Presidente Donald Trump.
“A Gronelândia é nossa. Não queremos ser americanos, não queremos ser dinamarqueses, somos gronelandeses”, escreveu Múte Bourup Egede nas redes sociais, citado pela agência espanhola EFE.
A mensagem de Egede surge horas depois de Trump ter feito um apelo direto aos gronelandeses num discurso no Congresso na terça-feira, uma semana antes de os habitantes da ilha irem às urnas para as eleições legislativas.
Trump convidou o povo da Gronelândia a juntar-se aos Estados Unidos, alegando razões de segurança internacional, e afirmou que isso acontecerá “de um forma ou de outra”.
“Manter-vos-emos seguros, enriquecer-vos-emos e, juntos, levaremos a Gronelândia a patamares que nunca imaginaram ser possíveis”, prometeu.
Em resposta, Egede afirmou que os gronelandeses não estão à venda e decidem o próprio futuro na Gronelândia.
“Os americanos e o seu líder têm de compreender isso. Não estamos à venda e eles não nos podem comprar, porque o nosso futuro é decidido por nós na Gronelândia”, acrescentou Egede.
Desde 2009, a Gronelândia tem um novo estatuto que reconhece o direito à autodeterminação.
A reação de Egede está em linha com declarações feitas nos últimos meses, desde que Trump tornou pública a intenção de conquistar a ilha e ameaçou a Dinamarca com medidas coercivas se não acedesse aos seus desejos.
As eleições legislativas na Gronelândia, a maior ilha do Ártico, estão marcadas para 11 de março.
O Governo dinamarquês também reagiu hoje às declarações de Trump, rejeitando a sua pretensão de incorporar a Gronelândia nos Estados Unidos.
“Isso não vai acontecer”, disse o ministro da Defesa, Troels Lund Poulsen, à emissora pública dinamarquesa DR, segundo a agência francesa AFP.
“A direção que a Gronelândia quer tomar caberá aos gronelandeses escolher”, acrescentou.
De visita à Finlândia, o ministro dos Negócios Estrangeiro dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, disse não acreditar que a Gronelândia venha a fazer parte dos Estados Unidos.
Rasmussen afirmou estar “muito otimista” quanto à decisão que os gronelandeses vão tomar em relação à Dinamarca e desvalorizou a afirmação de Trump de que a incorporação da Gronelândia acontecerá de uma forma ou de outra.
“Estamos conscientes de que a Gronelândia, a Dinamarca e os Estados Unidos têm interesses comuns no que diz respeito à segurança no Extremo Norte e no Ártico e estamos dispostos a trabalhar com os nossos amigos americanos para alcançar este objetivo”, afirmou.
“Mas, claro, com base no facto de termos um reino dinamarquês”, sublinhou Rasmussen durante uma conferência de imprensa com a homóloga finlandesa, Elina Valtonen.
Trump disse pela primeira vez que queria comprar a Gronelândia em 2019, durante o primeiro mandato na Casa Branca (presidência), uma oferta que tanto o território autónomo como a Dinamarca rejeitaram.
A ilha ártica com dois milhões de quilómetros quadrados (80% dos quais cobertos de gelo) tem uma população de apenas 56 mil habitantes.
Os Estados Unidos mantêm uma base militar no norte da Gronelândia ao abrigo de um amplo acordo de defesa assinado em 1951 entre Copenhaga e Washington.
Além da localização estratégica no Ártico, a Gronelândia possui minerais de terras raras presos sob o gelo, necessários para as telecomunicações, e milhares de milhões de barris de petróleo por explorar, segundo a agência norte-americana AP.
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