Desde meados da década de 1850 até à Primeira Guerra Mundial, registou-se um movimento de liberalização comercial, liderado pela potência do período, o Reino Unido, que contribuiu para um processo de desenvolvimento acelerado deste país e daqueles que participaram neste movimento (não foi o caso de Portugal).
No período entre guerras ocorreu um recuo naquela liberalização, com proteccionismo e retaliação sucessiva, que foi muito prejudicial e dificultou a recuperação da Grande Depressão, iniciada em 1929.
Este desastre económico deu força a um novo período de liberalização comercial no pós-guerra, com várias fases, liderada pela potência principal, os EUA, que tem durado até hoje. Na Europa, este processo deu origem à criação da CEE (hoje UE) em 1957 e da EFTA, em 1960, de que Portugal foi membro fundador. A liberalização que se seguiu deu ao nosso país o melhor período de crescimento e convergência dos últimos duzentos anos.
Trump propõe-se destruir o papel dos EUA em todo este processo e, pior ainda, ignorar as lições históricas do período negro entre guerras. O novo presidente já fez as mais diversas ameaças de lançar tarifas, sem grande critério. A falta de lógica destes novos impostos sobre as importações tem uma elevada probabilidade de ser prejudicial, antes de mais, para os norte-americanos. Os consumidores irão pagar preços mais elevados pelos mesmos produtos e as empresas também pagarão mais pelas matérias-primas e produtos intermédios, reduzindo-lhes a competitividade.
O grande risco é que a UE seja tomada de um “machismo” económico e se gere pressão política para retaliar com tarifas sobre os EUA (como parece que o Canadá se prepara para fazer), com tão pouca ou ainda menos lógica do que as decretadas do outro lado do Atlântico. Que não poderíamos ficar de braços cruzados e que teríamos de fazer o mesmo, sob pena de ficarmos com imagem de fracos.
A Europa precisa de manter a cabeça fria e ter consciência que a teoria económica e a experiência histórica confirmam que quem lança tarifas está a prejudicar-se a si próprio, para além de prejudicar também os outros. Por isso, retaliar seria a pior resposta possível, não só em si mesma, como pelo risco de desencadear uma escalada proteccionista ainda mais negativa. Protestos diplomáticos fazem todo o sentido, mas mais do que isso ser-nos-ia prejudicial.
Se o mundo entrar numa fase proteccionista, fará todo o sentido aprofundar o mercado único europeu, onde ainda há imenso a fazer, como o relatório Draghi tão bem salientou e já aqui foi referido há quatro semanas. Aliás, este aprofundamento fará sentido mesmo que Trump não venha a concretizar as suas propostas.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.