Prestar contas de forma pública, aos associados, aos parceiros, à sociedade, deve ser mandatório para toda e qualquer organização sindical ou profissional. É um imperativo moral que tem que ser também legal.
Quando alguém adere a uma organização sindical ou profissional deve estar ciente que é uma decisão com impacto sobre a sua situação presente, mas também com potenciais benefícios (ou danos) nas próximas décadas.
Isto é tanto mais verdade se tais organizações, para além das funções clássicas de representação (no domínio laboral, mas também em áreas menos óbvias como nos fundos de pensões estabelecidos por contratação coletiva, por exemplo), negociação coletiva e apoio jurídico e contencioso laboral, prestarem também serviços de assistência: médica e medicamentosa, social, residências assistidas, unidades de prestação de cuidados de saúde. Entre tantos outros exemplos possíveis.
Tal como a aquisição de uma residência ou uma mudança de carreira profissional, a adesão a uma organização sindical ou profissional deve ser precedida de uma análise cuidada e prévia a um conjunto de realidades: comportamentos e valores éticos da organização; capacidade de gestão, experiência e desempenho dos seus dirigentes; análise económico-financeira aos principais elementos patrimoniais e de exploração corrente.
Porque as organizações não são todas iguais, espanta-me que muitas não publiquem contas, não as auditem por entidade independente e credível e não apresentem estudos prospetivos da sua capacidade futura (próxima e a médio prazo) de serem sustentáveis.
Espanta-me que muitos profissionais façam escolhas sem fazerem uma análise básica e sem exigirem transparência a essas organizações. Como fazer parte de uma organização que não publica suas contas? E não publica porquê? Tem receio de algo?
Falha na legislação, que ao primar pela capacidade de autogoverno, numa lógica supletiva do Estado face às organizações emanadas da sociedade civil, ignora os poderosos incentivos que existem para a pouca transparência por parte dos detentores do poder em cada uma dessas organizações.
Algumas organizações assumem compromissos futuros (a muito longo prazo), recebendo vultuosos fundos adiantados. Quando não publicam contas, não as auditam e não publicitam as reservas dos auditores, estão provavelmente a assumir compromissos que não terão capacidade de honrar, num prazo muito curto. Curtíssimo.
Deve ser matéria que preocupe os respetivos associados, os parceiros (mormente entidades empregadoras), e o poder político, porque existe um risco, não negligenciável, de deixarem na mão da sociedade a prestação dos serviços cujos compromissos assumiram.