Para Severino Ponte, CEO do grupo Construções Vila Maior (CVM), o próximo ano será inevitavelmente marcado pela incerteza e pela forte possibilidade de os fatores exógenos que impactam a atividade económica de forma muito negativa continuarem ativos. Mas em paralelo pode haver o outro lado da moeda: a concentração, num quadro em que a pulverização empresarial é um elemento incontornável do sector. Se isso suceder, novas empresas, com maior músculo financeiro e maior capacidade de investimento poderão surgir. Mas o tema não é consensual: vários empresários consideram que a pandemia descapitalizou as empresas e que o ciclo que se segue não é de ‘empatar’ capital em aventuras de crescimento não orgânico.
Por outro lado, Severino Pontes acredita que o papel da reabilitação e da reconversão continuarão a ter um espaço importante. Mas a CVM sabe que esse nicho não será a “salvação” do sector. Ou seja, a construção nova, que tenderá a abrandar no curto/médio prazos, acabará por reaparecer. Vale a pena também reter um dado que o sector vai evidenciando: a falta de trabalhadores especializados – que está a começar a ter um forte impacto na construção, desde logo ao nível dos custos.
Que balanço faz da atividade do sector em 2022?
Foi um ano difícil que obrigou as empresas e repensar estratégias e a alterar procedimentos que levaram a maior esforço financeiro, provocado pela necessidade de compra de material para stock devido à escassez de materiais.
Como se comportou particularmente o Grupo CVM?
Foi um ano positivo com várias oportunidades de negócios e novas parcerias. Reforçamos o nosso investimento na área de promoção imobiliária e aumentamos a nossa carteira de obras
Quais são as perspetivas para 2023, sendo certo a palavra ‘crise’ está no topo da agenda do próximo ano?
Os últimos anos têm sido instáveis com acontecimentos imprevisíveis que provocaram alterações não só no nosso sector mas na forma geral de pensar o negócio, no entanto foram anos de crescimento, 2023 será mais uma oportunidade de aprender, melhorar e crescer.
Do ponto de vista interno, a reabilitação urbana parece ser a ´salvação´ do sector. Concorda?
A reabilitação representa hoje parte importante no sector, embora não concorde que se possa dizer que é a “salvação“. Acredito que a construção nova terá nos próximos três anos um abrandamento devido à escassez de mão de obra qualificada o que levará a reabilitação e remodelação, que vão continuar a crescer, a terem uma cota mais representativa no sector.
Na sua perspetiva, há medidas que o governo poderia tomar para sustentar a reabilitação urbana?
O trabalho desenvolvido pelas câmaras e pelo governo como a taxa reduzida de IVA e impostos relacionados com a compra de imóveis reabilitados em muito tem ajudado, manter as medidas é fundamental. Novas medidas como o melhorar o tempo dos licenciamentos, com imposição de prazos limite de resposta na análise de projetos e obtenção de licença de construção e licenças de utilização nos imóveis em zonas de reabilitação urbana permitiriam encurtar o prazo de desenvolvimento dos projetos, o que possibilitaria a redução dos preços de venda por redução dos encargos financeiros.
Já a internacionalização continua a ter lugar no âmbito do racional de negócio do sector. Parece-lhe adequado?
Na minha opinião, não. Só faz sentido para empresas que já estão a operar fora.
Acha que o sector vai passar, ou deveria passar, por uma ronda de fusões/aquisições?
Sim. O momento atual será propício a existência de fusões de forma a possibilitar que as empresas fiquem mais fortes.
Na sua opinião, há uma bolha imobiliária em Portugal?
Não acredito na existência de bolha imobiliária em Portugal, os preços estiveram muitos anos estáveis, a subida dos preços que se verificou nos últimos anos, provocada não só pela subida dos preços de mão de obra e matérias-primas mas também resultado da maior procura do que oferta, tende a estabilizar. O mercado imobiliário continuará a oferecer segurança e estabilidade aos investidores.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com