“Acabar com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder.”
Millôr Fernandes
Esta citação corresponde ao que sempre acreditei: a vertigem do poder corrompe e os casos conhecidos sucedem-se, faltando conhecer as consequências daqueles que não viram (esperemos que ainda…) a luz do dia.
À semelhança do que sucedeu com Bava, em 2014 Mexia foi condecorado e, volvidos seis anos, foi, embora em termos precários, proibido de entrar na empresa, por cuja gestão recebeu a Ordem de Mérito Empresarial.
Sem ter qualquer simpatia pelo juiz que decretou as medidas, nas quais avulta aquela a que nos referimos, a verdade é que toda a história à volta destas personagens cheira para lá de mal, sendo que Mexia, atenta a remuneração que aufere, tinha obrigação de muito mais (ou, com mais rigor, de muito menos…). Para além da conversa das rendas, avulta o episódio do dito consultor, levado para o governo mas pago pela dita EDP.
Entretanto, Neeleman, criador do artifício legal de ser acionista minoritário numa empresa mas o seu principal decisor, conseguiu a proeza de receber mais 50 milhões do que aqueles que teria investido, deixando a TAP a braços com os aviões que para cá trouxe, vindos de uma Azul quase insolvente e que nos foram cobrados muito mais caros. Pelo meio, ficámos a saber de uma cláusula secreta, negociada por Lacerda Machado, logo de seguida reconvertido em administrador não executivo, alegadamente porque, citando-o, desde criança que “gosta muito de aviões”. Sai o dito cujo, manifestamente bem pago, e o inerrável Antonoaldo, mas ficam por cá os ditos aviões e, pior ainda, os gestores nomeados pelo Estado que, aparentemente, nada viram de errado em tudo isto.
Pelo meio, nacionalizámos a EFACEC, outrora vendida a essa autoproclamada grande empresária, Isabel dos Santos, proclamando-se, quase num tom vitorioso, que não pagaremos as dívidas desta.
Só estes quatro exemplos permitem perceber que este país não pode ser (a) sério. Falamos da corrupção quando os diversos casos vão implodindo na nossa cara mas rapidamente os esquecemos, um atrás do outro. Entretanto, vamos pagando as faturas, com o fatalismo típico português, como se a nossa única sorte fosse a sermos chamados a cobrir os prejuízos, sem nunca nos ser dada a conhecer a factura final.
Da próxima vez que os especialistas da Economia vierem com a conversa de despedimentos, sabendo-se que as vítimas raramente tiveram participação no que de errado se passou, haja alguém que lhes pergunte se já fizeram as contas aos que os condecorados nos custaram. Até lá, estamos apenas a defender que inocentes paguem pelos crimes destes e a dizer-lhes que o crime compensa. Em suma, a incentivá-los a continuarem a mexer-se.