Esta semana foi marcada pela boa notícia, oriunda do Banco Central Europeu (BCE), de que tomaria medidas adicionais para estimular a economia e ajudar os bancos, num contexto inédito de taxas de juros negativas. Atento ao que se passou no Japão, o BCE parece querer ajudar a rendibilidade dos bancos e aliviar as nuvens negras que alguns insistem em ver no horizonte.

Bom sinal o que os bancários têm vindo a dar, enchendo os plenários que temos feito, para discutir o que está em causa nos Acordos Colectivos de Trabalho e medidas a tomar nos próximos dias e semanas. Muita discussão, muita participação, um mandato claro! Salas e auditórios cheios, cidade após cidade.

Boas notícias também as que nos chegam do Ministério do Trabalho, que no âmbito do processo de mediação que opõe o Millennium bcp a três sindicatos bancários, fez uma proposta eivada de bom senso, para desbloquear o processo de aumentos das cláusulas de expressão pecuniária relativas a 2018.

Duas más notícias, no entanto. A primeira a referir que Portugal foi o país da OCDE onde os rendimentos do trabalho, em proporção do rendimento nacional, mais caíram entre 2004 e 2017. Ou seja, não é a globalização, a digitalização e a robotização que desencadeiam ameaças e oportunidades em todas as economias desenvolvidas, que explicam a razão porque nos aproximamos de um padrão terceiro-mundista de distribuição de rendimentos.

Há que encontrar as explicações nas alterações drásticas às leis do trabalho e ao menor peso dos sindicatos na vida laboral e na discussão das políticas de rendimentos e preços. O reforço da sindicalização, e a alteração de um par de disposições da lei do trabalho, muito fará para nos aproximar dos países em que os direitos sociais e laborais não são coisa vã.

Finalmente, uma última má notícia, na contratação colectiva na banca, onde alguns continuam a alimentar o mito de que podem dividir os bancários sem se aperceberem que o mundo mudou. Nesta mesma contratação, onde está em curso um ataque sem precedentes aos serviços de assistência médico-social (SAMS) dos bancários, construção mutualista ímpar na Europa, onde a solidariedade (inter-geracional) é o valor dominante.

Quando a OCDE, para o período de 2000 a 2016, diz que as despesas com saúde (pública, privada e mutualista), nos Estados-membros, cresceram, em termos nominais e numa base anual, entre 5% a 6% ao ano, ano após ano, esperar-se-ia que a quota parte do financiamento das instituições financeiras empregadoras acompanhasse esta realidade.

Mas quando se propõem aumentos de 0,75%, é legítimo pensar que alguns intervenientes, congelados no tempo, mais não querem que ir asfixiando, paulatinamente, os SAMS dos bancários.

Agora que as instituições bancárias convergem para níveis de rendibilidade de capitais próprios similares aos encontrados antes da crise do subprime, é caso para dizer, alto e bom som, não vamos contemporizar!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.