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“Nayola”, o ‘road movie’ que atravessa três gerações de mulheres

Antes de estrear nas salas de cinema, em abril, “Nayola”, a primeira longa-metragem de animação de José Miguel Ribeiro, é exibida a 22 de março na Monstra – Festival de Animação de Lisboa. Uma boa desculpa para vibrar com um filme que combina “uma aventura épica, um desaparecimento misterioso e um amor inabalável”.
21 Março 2023, 18h00

José Eduardo Agualusa e Mia Couto são os grandes “culpados” da existência deste filme. Se a peça “A Caixa Negra” não existisse, o realizador José Miguel Ribeiro não teria tido a epifania que o levou a querer contar as vidas, os sonhos e os segredos de três mulheres, Lelena (a avó), Nayola (a filha) e Yara (a neta).

As suas histórias cruzam-se em dois tempos narrativos, com um intervalo de 14 anos. No passado, Nayola parte em busca do marido, desaparecido em combate na guerra civil angolana, e envolve-se numa busca errática, audaz e mágica. No presente, Yara é uma jovem rapper e ativista dos direitos humanos, perseguida pela polícia nas ruas de Luanda, o que deixa a sua avó, Lelena, numa enorme ansiedade.

Uma noite, avó e neta sofrem uma dupla ameaça, primeiro um misterioso mascarado armado invade-lhes a casa, depois a polícia faz uma rusga no musseque para prender Yara… Dizer mais é enveredar pelo caminho spoiler. Fica apenas um breve apontamento: “Nayola” é uma história de amor e uma canção de esperança num mundo melhor que nenhuma guerra é capaz de destruir.

É, também, uma das duas longas-metragens que o cinema de animação português deu ao mundo, sendo a outra “Os Demónios do Meu Avô”, de Nuno Beato. Estreadas em junho de 2022 no Festival de Annecy – considerado o mais importante evento para a divulgação de cinema de animação de todo o mundo – “Nayola”, de José Miguel Ribeiro, concorreu na secção oficial de longas-metragens, enquanto “Os Demónios do Meu Avô” se apresentou na competição Contrechamp.

Após cinco anos em produção e muitas viagens entre Angola e Portugal, José Miguel Ribeiro conseguiu cruzar misticismo e um tremendo legado da guerra, para ilustrar uma história que nos fala de máscaras e do que elas escondem. Uma cena fantástica que envolve um tio e um sobrinho, em lados opostos do conflito, explora essa ideia, mas podemos referir outro encontro, mais à frente no filme, que mexe ainda mais com as emoções. É o caso do chacal solitário que representa a faceta mais selvagem e perigosa da personalidade de Nayola… E para evitar novo spoiler, ficamos por aqui. Tudo o mais é magia e corações humanos, com tudo o que têm de bom e mau.

Aproveite para ver este poderoso filme que combina “uma aventura épica, um desaparecimento misterioso e um amor inabalável” na MONSTRA – Festival de Animação de Lisboa, às 21h30 de quarta-feira 22 de março. E descubra a surpresa muito especial que a organização preparou para o final da projeção…

 

 

Ainda que correndo o risco de fastidiar o leitor, não podemos deixar de destacar as vozes que dão densidade e carácter aos personagens deste filme vibrante: Elisângela Rita ‘Elis Rita’ (Nayola), Vitória Soares ‘Totonha’ (Lelena), Feliciana Délcia Guia ‘Meduza’ (Yara), Marinela Furtado (assaltante mascarado), José Adelino Barceló de Carvalho ‘Bonga’ (Ekumbi), Raul Rosário (atirador), Edmar Jorge Pires Domingos ‘Sacerdote’ (rapper Bola), Lírio Faria ‘Gonga’ (rapper Ginga), Sebastião Chitalo ‘Gaby’ (tio do soldado), Adorado Mara (chefe da estação), Catarina André (mulher soldado), Adelino Caracol (sargento tortura), Aldemiro Benjamim (soldado), António Diogo David (engraxador, recolector, soldado guarda, sobrinho), António Sande (sargento, chefe da polícia, soldado com anéis, soldado pequeno), Isabel Batista (vizinha), José Freitas (rapaz da motocicleta); e as vozes adicionais de Laura Huysmans, Rui Tavares, Correia Adão, Augusto Americano, Rosa Pinto, Idalina Bartolomeu, Alberto Lufungula, Fernanda Uandi, Regina Nanjundu, Isabel Teixeira, Bernardo Cambumbo, Lopes Colombo, Pedro Dias, Josué Francisco, Emiliano Salilila, Victor Miguel.

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