Nelson é uma marca-pessoa como poucas, daquelas que as marcas fazem por ‘agarrar’ porque mexem com as nossas emoções e as colocam ao rubro.
Já aqui escrevi sobre casos atuais, onde o lugar de topo continua a ser de Cristiano Ronaldo. Mas muitos outros atletas como Eusébio, Rosa Mota, Aurora Cunha, Carlos Lopes e tantos outros que mesmo depois de deixarem de ser atletas – corrijo, mesmo depois de deixarem de competir, porque um atleta nunca deixa de o ser – continuam a ter marcas que a eles se querem associar. Marcas de desporto na sua maioria, mas não só. Veja-se o caso de Aurora Cunha, que em todas as aparições públicas que faz enverga a marca Liberty Seguros. Isto acontece por uma razão simples: a história de vida de cada um destes heróis do desporto nacional mexe com a emoção de muitos portugueses, mexe com a nossa vontade de vencer, mesmo quando parece impossível, e são um exemplo de luta a seguir. São histórias de luta, de muito esforço e empenho, de trabalho árduo, de perdas e, de vez em quando, de grandes vitórias. E essas nunca são só deles, são sempre nossas, dos portugueses.
Mas voltemos ao Nelson. Depois de uma lesão que o afastou das vitórias desportivas por uns tempos, e da qual muitos duvidavam que se levantasse de novo para um caminho desportivo de sucesso, ainda foi fortemente disputado por dois dos maiores clubes nacionais, prova do quanto vale a sua marca. O mais curioso é que, recentemente, ganhou as duas cores em simultâneo. Porque o Nelson Évora não é verde Sporting ou encarnado Benfica, é das duas cores que, juntas, fazem a bandeira nacional.
Levantou-se, venceu e mostrou que nada se faz sem esforço, sem vontade, sem garra, sem querer ser o melhor entre os melhores, mesmo que isso custe a incompreensão de alguns, mas pelos visto tem resultados visíveis.
Na altura de euforia mediática entre clubes, o atleta usou as redes sociais para comentar a mudança e escreveu algo curioso e pertinente: “Não vos quero convencer de nada, não me quero justificar de nada, nem me desculpar de nada! (…) Hoje quero falar de amor! Porque podem dizer-me tudo o que quiserem, mas quem está indignado comigo é porque ama o Benfica e quem está feliz por mim é porque ama o Sporting!”
O desporto tem o poder de mover multidões, e a par dele só a música e a religião. São o ex-líbris que qualquer marca deseja, mas que só aquelas que têm grande poder económico conseguem. O poder de Nelson Évora ainda será maior agora, depois de se ter levantado e dado tudo nos Jogos Olímpicos, de ter conquistado o título de Campeão Europeu de Pista Coberta, e da polémica mudança de clube, mas será sempre um poder ligado à emoção de um vencedor, que é aquilo que no fundo todos queremos ser.
A marca Nelson Évora vale hoje seguramente mais. Até porque um salto de 17,20 metros não é para qualquer um, só mesmo para ‘Ferraris’.