Recentemente, o CEO da Lufthansa, Jens Ritter, piloto de carreira, entrou de surpresa num voo regular da companhia, entre Frankfurt e o Bahrein, integrou a tripulação de cabine e serviu bebidas aos passageiros, tendo dito publicamente que é importante mudar de prisma para se ter novas percepções da realidade e este exemplo fez-me pensar no conceito de escopo lucrativo empresarial.
Diz a lei que a finalidade de qualquer sociedade comercial é a obtenção de lucro. O escopo lucrativo é uma linha vermelha quanto aos actos e negócios jurídicos que as empresas podem celebrar, razão por que é legalmente vedado às sociedades comerciais, como princípio geral, a realização de liberalidades ou a prestação de garantias a favor de terceiros.
Sem embargo, nos últimos anos tem vindo a ganhar força a ideia de que a procura do lucro pelo lucro não é conforme com as boas práticas de corporate governance.
Os cânones da boa governação empresarial demandam uma leitura actualista e os preceitos legais regentes da vida das empresas e da actuação dos seus administradores têm de ser interpretados à luz do pensamento social e jurídico do presente.
A lei impõe aos administradores das empresas deveres de lealdade e cuidado na gestão, com a obrigação de actuarem, não apenas no estrito interesse da empresa, mas considerando também os interesses de longo prazo dos accionistas e ponderando ainda os interesses de outros stakeholders, tais como trabalhadores, credores e clientes.
Entre o bom exemplo do CEO da Lufthansa e a má postura de administradores que buscam cegamente o lucro existem muitos e pequenos passos que podem e devem ser dados, e gerir bem uma empresa não se limita a saber olhar para o volume de negócios e trabalhar as margens financeiras, porque as crises são cada vez mais frequentes, os recursos humanos são um activo cada vez mais escasso e a incerteza é um risco presente na vida de todas as empresas.
Alguns resultados financeiros que outrora faziam crescer empresas e eram motivo de orgulho e admiração são hoje repensados, porque importante como os resultados é o caminho e os custos para lá chegar, em termos económicos, sociais, ambientais, etc..
O mundo mudou e hoje as empresas não podem viver só de lucros, mas de toda a pegada que deixam para os alcançar.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.