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Nem tudo é mau nas empresas zombie

Como é necessário esperar que a economia volte ao seu nível potencial para que se entenda quais as verdadeiras empresas zombies, é prematuro deixar de emprestar antes de tempo. Como já foi visto, grande parte destas empresas deixam de ter essa denominação e acabam, por isso, por servir como estabilizador automático em tempos de recessão.
26 Maio 2021, 07h56

 

A crise pandémica e económica por que o mundo tem passado tem levado à reabertura de uma discussão maioritariamente tida em momentos de recessão – o crescimento de empresas zombie e o seu eventual impacto. Os estímulos de governos e bancos centrais efetuados durante o ano de 2020 bem como todos aqueles ainda em vigor, permitem que várias dessas empresas consigam persistir e aumenta, por isso, a preocupação de que possam eventualmente atrasar a recuperação económica. A realidade é que o aumento do número de empresas nesta situação está muito relacionado com uma economia fraca em que a sua redução depende de um forte crescimento económico.

O que são empresas zombie e o porquê de nos preocuparmos com elas

A definição geralmente utilizada para identificar empresas zombie são aquelas cujas receitas não são suficientes para pagar os juros das suas dívidas. Esta definição exacerba, no entanto, o número de empresas nessa situação, uma vez que elas apenas têm de cumprir este critério por um ano para que entrem imediatamente para a contagem de empresas zombie. Assim, é possível observar um forte aumento desse número durante recessões e também uma considerável diminuição com as recuperações económicas. Nomeadamente, no ano de 2008, nos Estados Unidos, a dívida total destas empresas ascendia aos 1,5 triliões de dólares, enquanto passado dois anos esse número era 70% mais baixo (0,46 triliões de dólares).

Potencialmente, os restantes 30% são aqueles que devem ser alvo de maior escrutínio e preocupação.

Num estudo realizado pelos economistas Ricardo Caballero, Takeo Hoshi e Anil Kashyap, é demonstrado que estas empresas têm uma produtividade mais baixa do que outras que não estejam na mesma situação. Essa conclusão é igualmente partilhada por diversos ensaios académicos que argumentam que empresas zombie retiram receita comercial a outras mais saudáveis e que contribuem assim para um mais fraco crescimento económico. Para além disso, os bancos têm também incentivos em continuar a emprestar uma vez que o possível incumprimento por parte dessas empresas, tem a capacidade de reduzir o seu capital, chamando assim à atenção dos supervisores. Gera-se assim um ciclo vicioso que é importante estancar.

O que fazer para resolver este problema

Apesar de existirem empresas que não irão conseguir sair dessa situação e que poderão, por ventura, acabar por falir, existem também diversas medidas que podem ajudar a diminuir as empresas que têm dificuldades em deixar de serem denominadas de zombies. Em particular, talvez se deva destacar duas como principais:

  • Crescimento Económico – as verdadeiras empresas zombie são fruto do fraco crescimento da economia e é, por isso, necessário esperar que a mesma retorne ao seu nível potencial – situação onde a inflação está próxima do seu target bem como o desemprego perto do seu nível de pleno emprego.O Japão é dos países com maior percentagem de empresas zombie precisamente porque desde a década de 60 que a sua taxa de desemprego não se encontra perto do seu nível de pleno emprego de cerca de 1%. Enquanto a Europa também tem observado um aumento do número destas empresas muito pela sua fraca resposta à crise da dívida soberana de 2010, os Estados Unidos conseguiram observar uma melhora substancial como consequência da forte ajuda fiscal e monetária que ofereceram. Olivier Blanchard e Adem Posen (2020) recomendam que é necessário utilizar todos os instrumentos macroeconómicos disponíveis para impulsionar a atividade económica acima do potencial e mantê-la por lá durante alguns anos. Esta aparenta ser precisamente a intenção da Reserva Federal norte-americana, bem como de outros bancos centrais;
  • Supervisão bancária – é necessário deixar de fornecer empréstimos às empresas que persistem como zombies ano após ano. Apesar de ser potencialmente da competência dos reguladores impedir que esse ciclo continue, o mesmo não deve ser feito ignorando o ciclo económico pois isso iria contradizer o último ponto em cima descrito.

Como é necessário esperar que a economia volte ao seu nível potencial para que se entenda quais as verdadeiras empresas zombie, é prematuro deixar de emprestar antes de tempo. Como já foi visto, grande parte destas empresas deixam de ter essa denominação e acabam, por isso, por servir como estabilizador automático em tempos de recessão. Acabar com uma empresa zombie numa economia débil só agrava a sua fraqueza, uma vez que seria possível observar um maior número de desempregados a diminuírem o seu consumo.

Nestas alturas, estas empresas são essenciais para a manutenção do emprego e do consumo. É então melhor ter trabalhadores em empresas zombie do que tê-los desempregados.

 

 

 

 

 

Frederico Aragão Morais
Senior Market Analyst na Qaestum Capital

 

 

Este conteúdo patrocinado foi produzido em colaboração com a Qaestum Capital.

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